terça-feira, 3 de março de 2009

PROCURA-SE UM LIVRO...


“Escreva! Escreva!
Você verá como se verá por inteiro...”.
Ítalo Svevo (1861-1928)
A Consciência de Zeno


O meu pai sempre foi uma péssima influência para mim – isso é uma homenagem, já que eu o adoro. Deu-me todos os livros que eu quis. Deu-me a obra da britânica Agatha Christie (1890-1976), por exemplo – ela é ótima! –, quando eu, ainda, era apenas uma criança. Todo sábado era um ou dois livros. E li todos, reli. Pena que, ao longo dos anos, durante minhas ausências, entravam em meu quarto e depenavam a minha coleção. Mas, bom!
Todo escritor que se preze deve ler e apreciar Agatha Christie, sem preconceitos. Qual o problema? Só porque ela era uma mulher rica e criativa, escritora de romances policiais? E daí? Era uma mulher culta, sensível, humanista e entendeu a complexidade da natureza humana. Falou disso pelos meios que encontrou em mais de cinqüenta livros publicados. Quanto ao meu pai... Ainda criança, me fez ler as Mil e umas noites, cujo autor é desconhecido.
Além disso, a obra do brasileiro Monteiro Lobato (1882-1948). E por aí vai. Achando pouco, quando fiz quinze anos, ele me deu dois livros que não se dá para uma pessoa com essa idade: Almas mortas, do russo Gogol (1809-1852), e Memorial do convento, do português José Saramago. Não demorou muito, caiu em minha rede a primeira edição de O Nome da rosa, do italiano Umberto Eco. Ao invés de brincar na praia, lá estava eu, lendo um homem tão erudito e as suas teses.
Depois disso, só foi piorando... Contaminada pela literatura, comprei, em Paris, mais de uma versão da Divina comédia, do italiano Dante Alighieri (1265-1321). Isso sem falar na minha grande admiração por um outro italiano, Giordano Bruno (1548-1600), queimado vivo pela Inquisição, e pelos seus Heróicos furores – uma elegia ao amor. Já li de tudo – menos chineses, japoneses e indianos (livro é alimento e não gosto de certos temperos). Não gosto e pronto!
Qual o motivo, então, de meu pai me despertar para a intelectualidade? Hoje, penso demais e, pelo visto, isso não é bom. O fato é que, final do ano passado, eu queria mudar de endereço e comecei a arrumar papéis, livros e congêneres em algumas caixas. Uma faxina! De repente, me deparei com o exemplar de Memorial do convento, de Saramago. Apesar do título sugestivo, o livro é complexo. E maçante.
Perdoe-me, Saramago. Tanto que os anos se passaram e, nem aos quarenta anos, consegui lê-lo. Tentei, mas, sem ponto parágrafo, não dá! E os diálogos? Ninguém sabe quem diz algo ou alguma coisa. Então. Durante a faxina, catei uns livros que eu nunca tive a pretensão de ler, que eu ganho, mas que não me interessam – só ocupam espaço na estante - e joguei na sacola. Junto, com raiva da minha incompetência por não conseguir lê-lo e revoltada com o próprio autor, Memorial...
Repassei tudo para um sebo. Queria que ele fosse mais acessível. Para outros. Só que, depois disso, algo mudou... Quando, final do ano passado, viajei a Natal, no Rio Grande do Norte, e criei este blog, em homenagem a Saramago, lembrei do livro que vendi ao sebo. E estou me odiando, fazendo de tudo para recuperá-lo. Infelizmente, ninguém tem pistas. Alguém já o comprou. Não que eu vou lê-lo – impossível –, mas é só para guardá-lo e fazê-lo voltar a minha estante, de onde nunca devia ter saído.
QUERO-O DE VOLTA! Nem que seja só para contemplá-lo, à distância. A capa era rubra com o título em branco. Fonte tipo tipográfica. Tinha meu nome, embora as meninas do sebo tenham dito que limpam quaisquer vestígios do antigo dono antes de um novo comprar. Ai, Saramago! Com certo problema, consegui ler Ensaio sobre a cegueira, Ensaio sobre a lucidez, mas, Memorial do convento...
Sem chances. Li, também, diga-se de passagem, crônicas avulsas e o livro A Bagagem do viajante, cujo título inspirou o meu blog, A Bagagem do navegante. Gostaria de ler mais, mas o seu estilo é rupestre demais! Resta-me, camarada, elogiá-lo pelo pouco que consegui ler. No mais, vou ficando por aqui...


Nathalie Bernardo da Câmara
nathaliebernardo@hotmail.com
Brasília (DF) - Brasil, 3 de março de 2009.

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