domingo, 25 de abril de 2010

HÁ MUITO,
MUITO TEMPO ATRÁS...


... e
m uma galáxia já perdida, existia um planeta de nome Terra. Feliz, sorridente, de bem com a vida, a Terra possuía uma natureza diversificada e abundante, que, generosamente, disponibilizava a todos os seres vivos que nela habitavam, os quais, por sua vez, utilizavam-na para os mais diversos fins. Porém, ao longo do tempo, a cada evolução da espécie mais desenvolvida que vivia na Terra, a que, inclusive, passou a ser chamada de raça humana, o mau uso e o abuso das riquezas naturais do planeta aumentavam, tornando-se sempre mais aprimorados.


A tristeza da Terra era sem fim. E, apesar dos que lhe defendiam, os que lhe atacavam eram em maior número. Tanto que, à medida que medidas eram tomadas para proteger a sua natureza, ações agressivas contrárias tornavam-se cada vez maiores, mais requintadas e acintosas, chegando a ponto de seus adversários não respeitarem nem mesmo o aniversário do planeta, comemorado, todos os anos, sempre no dia 22 de abril.


O fato é que não tinha dia nem hora para a degradação dos bens da Terra, mas, isso, apenas porque os seus inimigos tratavam-na como um Zé Ninguém. Tanto que, sem o mínimo de pudor, eles chegaram ao cúmulo de fazê-la de privada, um esgoto de si mesma, onde já não cabia nada.


Pois é! Todo tipo de tranqueira poluía as suas águas, o seu solo, os seus ares, que, aliás, ardiam que nem fogueira, provocando dores de cabeça atrozes.



Um dia, contudo, sem menos esperar, a Terra viu os seus pulmões perderem a respiração.


Instalaram-se, então, as doenças: bronquite, pneumonia... De repente, uma tosse, que, inicialmente esporádica, se tornou crônica, igual mania.


E, diante de tanta agonia, expondo as suas mazelas, fissuras e cicatrizes – vivia alquebrada –, a Terra perdia o vigor, tamanha era a sua dor.


Parecia a Idade Média, um retorno à Inquisição, já que as queimadas não cessavam e afetaram o seu coração.


A aflição era tamanha e a febre nunca a baixar que o corpo, de tão aquecido, se esvaia de tanto suar. Não adiantaram médicos, especialistas no paulatino e agressivo aquecimento da Terra, provocando danos irreversíveis em toda a sua natureza. O mais grave, entretanto, é que nada resolvia o mal que a combalia, deixando-a desidratada e inerte, sem forças para reagir.


Os aliados da Terra, por sua vez, pensaram em diversas soluções para tentar salvá-la, garantir a sua sobrevivência e, conseqüentemente, a da própria raça humana. No entanto, os aliados estavam em desvantagem. A luta, portanto, era desigual. Mesmo assim, eles não esmoreceram e reagiram como puderam para que a Terra repousasse e se regenerasse das feridas – sem falar nas seqüelas – que lhe foram causadas por seus inimigos, sempre movidos que eram pela ambição e ganância desenfreadas.


Engajados, contudo, em proteger a Terra, cuja saúde era, de fato, preocupante, os seus aliados revezavam-se dia e noite velando por sua integridade. E toda a sua natureza era devidamente protegida.


Ocorre que, apesar de todo o empenho dos seus aliados, a Terra não reagia aos cuidados que recebia. Debilitada, sem saúde para andar com os seus próprios pés, necessitando de muletas tal qual um manco, com deformidades físicas, a Terra deixou-se recolher, internar, sem reagir aos tratamentos intensivos aos quais teve de se submeter.


No entanto, sem manifestar nenhuma reação aos cuidados que recebia, a Terra, sem esperanças, pressentia o termo da sua existência. E chorava, sentindo que, por todos os seus poros, se esvaia a sua energia vital. E ela estava certa. Tão certa que, certo dia, em prantos, sucumbiu as suas próprias lágrimas, levando consigo toda espécie de ser vivo, já que o seu calor febril derreteu todas as calotas de gelo que lhes pertenciam. Porém, sabe-se lá como, um humano sobreviveu à hecatombe, provocada, aliás, por sua própria raça.


O que ninguém sabe, contudo, é como após o que poderíamos chamar de dilúvio, que foi a hecatombe, o único humano sobrevivente galgou à órbita da Lua e já foi aboletando-se, apossando-se de uma antiga conquista.


Curiosamente, o escritor e jornalista francês François Mauriac (1885 - 1970) certa vez disse: “De nada serve ao homem conquistar a Lua se acaba por perder a Terra...”. Teria sido uma profecia? A verdade é que, desde então, nada mais ouviu-se falar da raça humana...


Como eu sei dessa história? Não sei. Mas, como diria Chicó: "Só sei que foi assim"! Agora, quem quiser que conte outra...



Nathalie Bernardo da Câmara




Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto! Muito bem escrito e com uma ótima analogia...
    Parabéns também pela escolha das imagens.

    ResponderExcluir

Aceita-se comentários...