sábado, 17 de julho de 2010

O PROTETOR DAS FLORESTAS



“Em todas as lendas temos uma mensagem positiva, educativa: ou de como se portar em grupo ou da importância da proteção as florestas...”.

Tonico Nascimento
Blogueiro brasileiro


“(...) Um dia, no meio do mato, dei de repente com o Curupira. Era ele mais feio que o índio mais pavoroso de todas as tabas de Pindorama. Tinha cabelos cor de fogo das fogueiras de guerra. Trazia na mão um maracá, que sacudia como um desesperado, deixando a gente zonza e surda. Olhei para os pés da aparição. Eram torcidos, voltados para trás. Não havia dúvida. Era mesmo Curupira. Aprontei arco e flecha e disparei o tiro. Pobre de mim! A flecha caiu a dois passos de meus pés, mole e sem força. Curupira matraqueava, matraqueava como um louco. Seus cabelos chispavam. Seu corpo era uma piorra. Seus olhos, dois vaga-lumes de brilho verde. Fiquei tão assustado que saí a correr e a gritar. Cheguei sem fala à taba...”.

A passagem acima é do livro As Aventuras de Tibicuera que são também as do Brasil, do escritor brasileiro Érico Veríssimo (1905 - 1975), publicado pela primeira vez em 1937, na qual o autor descreve essa figura do folclore brasileiro, que é o Curupira, considerado o protetor das florestas, cujo dia é comemorado nacionalmente hoje, 17 de julho, embora a data também seja chamada de Dia de Proteção as Florestas. É função, portanto, do Curupira espantar, com sons e assovios agudos, os predadores das florestas, protegendo, assim, as suas matas e habitantes, sendo os seus pés tortos um recurso que ele utiliza para obter sucesso em sua missão. Sim, os pés do Curupira, apesar de virados para trás, são ágeis e velozes.

Assim, o Curupira, que significa menino travesso, deixa falsos rastros para confundir caçadores e lenhadores, cujas técnicas para fazer presas animais e pôr árvores abaixo estão, hoje, cada vez mais sofisticadas. Esperto que só ele, o Curupira, costuma, ainda, pregar peças em muitos que adentram nas florestas, além de recorrer a encantamentos só para se divertir. O encantado, por sua vez, tece um novelo a partir de um cipó, escondendo, contudo, a ponta, e o joga ao Curupira, que fica a se entreter com o brinquedo, esquecendo, desse modo, a sua vítima, que consegue escapar, saindo da floresta. Essa personagem mítica e lúdica também aprecia descansar à sombra das mangueiras e brincar com os animais, seus amigos.

Segundo estudiosos, a lenda do Curupira e de demais personagens folclóricas existe desde o período da colonização do Brasil, tendo o jesuíta José de Anchieta (1534 - 1597), inclusive, escrito ao rei de Portugal, narrando, assustado, os relatos que ouvia a respeito. Infelizmente, tudo não passa, como o nome já diz, de lenda. Afinal, em tempos de aquecimento global, até que não seria má idéia que o Curupira existisse de verdade. E não apenas um, mas toda uma legião dessas criaturinhas fantásticas, espalhadas não somente nas florestas, mas, também, em parques urbanos, nas reservas ecológicas brasileiras e em todos os lugares onde houver verde, produzindo o oxigênio tão necessário para a nossa sobrevivência e a do planeta.

Nathalie Bernardo da Câmara

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