sexta-feira, 2 de julho de 2010

OS DOIS LADOS DA MOEDA

“A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem...”.

José Saramago (1922 - 2010)
Escritor português




Já dizia o sociólogo brasileiro Herbert de Souza (1935 - 1995), o Betinho, sábio e humanista exemplar, que o maior crime moral que uma sociedade pode cometer é fomentar a pobreza e a miséria, ambas, para ele, imorais. Afinal, como também bem o disse o advogado e pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869 - 1948), se a própria natureza produz alimentos o suficiente para a nossa sobrevivência diária, o ideal seria se cada um tomasse para si apenas o extremamente necessário para se manter vivo a cada dia, evitando, assim, a pobreza no mundo e a morte em conseqüência da fome – questões tão básicas –, decorrentes das desigualdades sócio-econômicas que estão por toda parte.





ENQUANTO ISSO,
NA ÁFRICA DO SUL...


“A chuva que irriga os centros de poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominadas para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga...”.

Eduardo Galeano
Jornalista e escritor uruguaio



Segundo um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, publicado fins de Janeiro de 2009, “o fosso entre ricos e pobres na África do Sul aumentou no período entre 1993 e 2008”. Tal situação, inclusive, “coloca a África do Sul no grupo dos países com os maiores índices de desigualdade do mundo”. Uma organização internacional que ajuda os governos a resolver os desafios econômicos, sociais e de governabilidade postos por uma economia globalizada, a OCDE conclui, ainda, que, “para qualquer parâmetro da pobreza, os africanos são mais pobres que os mistos, que, por seu turno, são mais pobres que os indianos e estes mais pobres que os brancos”.

Mas, como dizem que a pobreza é um negócio extremamente lucrativo, ou seja, gera satisfatórios dividendos para quem a explora... Não duvidava disso o jornalista, escritor e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues (1912 - 1980), que, com a sua mordacidade habitual, chegou a dizer: “Uns morrem de fome, outros vivem dela com generosa abundância”. Outros, por sua vez, terminam por engendrar polêmicas por declarações que dão a respeito da fome. Dá até para criar uma historinha quando, por exemplo, é questionada a capacidade de discernir de uma pessoa com fome:




Jean de La Fontaine (1621 - 1695), poeta francês, diria: — Barriga vazia não tem ouvidos.




Virgínia Woolf (1882 - 1941), escritora britânica, justificaria: — Não se pode pensar bem, amar bem, dormir bem, quando não se jantou bem.




Benjamin Franklin (1706 - 1790), jornalista norte-americano, entre outras muitas coisas, que, por sua vez, retrucaria: — É melhor ir deitar-se sem jantar que se levantar com dívidas.



Bertolt Brecht (1898 - 1956), escritor e autor dramático alemão, seria conclusivo: — Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa. É compreensível: eles já comeram.


E então?














Enfim!















LES BLANCS ET LES NOIRS







“O preconceito da raça é injusto e causa grande sofrimento as pessoas...”.

Voltaire (1694 - 1778)
Escritor francês


Zezé Motta, uma das mais expressivas e competentes atrizes brasileiras, em uma entrevista sobre a sua condição de negra, considerou que “os homens precisam viver em harmonia. O racismo é o grande obstáculo para a busca da felicidade. Não dá para ser livre enquanto ele existir. Há também negros que não gostam de brancos. Esse recado vai para eles: o mundo ficará mais bonito sem discriminações”.

Quisera que essa mensagem bonita alcançasse algo bonito, uma mente aberta, eu diria, mas, acho que esse entendimento só será possível, por exemplo, no dia em que – no mínimo – tomarmos conhecimento, por meio de registros iconográficos, que, ao longo da História da humanidade, a exemplo das inúmeras amas-de-leite negras, alimentando crianças brancas, quantas mulheres brancas já tiveram em seus braços um recém-nascido negro? Faço essa pergunta porque, em meus mais de vinte anos de jornalismo e pouco mais de quarenta e dois de vida, nunca vi um caso. Nem uma diminuta imagem que o fosse, no caso, atualmente, na era da net, disponibilizada no Google... Nem em algum livro disponível de História da arte, muito menos em todas as pesquisas que já fiz. Tanto que, ao pesquisar, a mais marcante que eu encontrei foi a que se segue abaixo...





Até quando será assim?


E o pior é que, em relação à pobreza, à miséria e ao racismo, a criança é sempre a maior das vítimas...


Nathalie Bernardo da Câmara

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