sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

PEDOFILIA: UMA CHAGA SEM FIM?


O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que “a Igreja não é uma multinacional”, ao se referir à falta de transparência nos casos de pedofilia, que envolvem religiosos católicos de vários países, defendendo que a cultura da Santa Sé sempre foi a de tratar denúncias deste tipo de forma “privada...”.

Jornal Folha de São Paulo, 05/04/2010



Sem entrar no mérito da motivação - não sou psicóloga - que leva um adulto, seja homem ou mulher, civil ou não, a abusar sexualmente de uma criança, o fato é que a legislação de vários países considera a pedofilia um crime, devendo, portanto, ser encarada como tal, sem condescendência. Sem nada! Uma grande polêmica, contudo, diz respeito aos religiosos, já que, em função das denúncias cada vez mais crescentes de casos de abuso sexual contra crianças, essa triste realidade ganhou maior visibilidade, sobretudo – é público e notório –, no seio da Igreja católica.

Há poucos dias, por exemplo, o jornal belga Le Soir divulgou um relatório elaborado pela Conferência Episcopal da Bélgica por solicitação de parlamentares do país, no qual é revelada a benevolência da instituição católica e da justiça belgas em relação a padres pedófilos ao longo das últimas décadas. Ao todo, pelo menos é o que consta no relatório – nada garante que, por algum motivo, outros nomes não tenham sido incluídos no referido documento –, são cento e trinta e quatro casos de “padres abusadores”, sendo que noventa dos quais ainda estão vivos.

Segundo, ainda, o relatório, dos cento e trinta padres citados, apenas vinte e dois foram punidos com a suspensão definitiva da Igreja e outros vinte e um condenados e presos, apesar de cerca de 70% dos casos ter sido denunciado as autoridades judiciais ou por eclesiásticos de plantão ou pelas próprias vítimas. O mais grave é que, depois da irlandesa, da austríaca e da americana, a Igreja católica belga é uma das campeãs de escândalos de pedofilia no mundo, com muitas das vítimas, por não superarem os traumas dos abusos, cometendo suicídio.

E o pior é que esses escândalos não se resumem a padres, mas também envolvem freiras de várias congregações religiosas que atuam na Bélgica, pipocando, aqui e acolá, denúncias contra muitas delas. Recentemente, por exemplo, o ministério público belga abriu inquérito para apurar denúncias contra freiras de um dado orfanato, de responsabilidade de uma ordem católica, que, ao longo de mais de trinta anos, supostamente a partir da década de sessenta, teriam, de acordo com os testemunhos, abusado de crianças sob os seus cuidados.

O mais absurdo de tudo isso é que autoridades católicas pedem perdão pela pedofilia de muitos dos seus pares, portem eles batinas ou hábitos, e esperam ser perdoadas. Ora – convenhamos –, como perdoar esses religiosos que cometem atos tão ignóbeis contra crianças inocentes e desprotegidas? É muita covardia, doença, perversão – tenha o nome que tiver! A punição desses criminosos deve ser a cadeia e indenizações por danos morais, embora, infelizmente, dinheiro no mundo é capaz de colocar a cabecinha das vítimas de pedofilia de volta no lugar.

No entanto, em reação a essa realidade, uma onda de desbatismo tem rondado a Bélgica, um país, inclusive, majoritariamente católico. Isso sem falar que, dos dez milhões de belgas, por exemplo, 60% são batizados, mas, segundo uma pesquisa publicada há poucos dias, apenas 8% desse percentual confia na Igreja. O fato é que muitos católicos belgas já demonstraram insatisfação com a Igreja e, por isso, optaram por abandoná-la, renegando o sacramento pura e simplesmente ou, mesmo, pedindo baixa nas suas respectivas certidões de batismo.

O curioso é que esse fenômeno não é exclusivo apenas da Bélgica, mas, também, da Europa como um todo e já anda a se estender pelo mundo. Enquanto isso, no Brasil, cujos casos de padres pedófilos não são poucos... A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB já declarou, publicamente, que é contrária à pedofilia e que repudia essa prática, se manifestando favorável a investigações que se fizerem necessárias para apurar as denúncias de abusos sexuais envolvendo religiosos católicos e a sua devida punição, tanto com medidas canônicas como civis.

No Senado Federal, por sua vez, estão em tramitação dois projetos de lei elaborados pela CPI da Pedofilia, prevendo alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, exigindo a veiculação, por emissoras de rádio e TV, de mensagens a ser elaboradas pelo poder público contra a exploração sexual e sobre o uso seguro da internet, e estabelecendo que pedófilos e condenados por crimes hediondos recebam o mesmo tratamento por parte da Justiça. Falando nisso, a pedofilia bem que também poderia ser classificada de hedionda... 

Enfim! Da Grã-Bretanha nos chega a notícia da condenação à prisão, por tempo indeterminado, do britânico Colin Blanchard, 40, líder de uma rede internacional de pedofilia, que agia com mais quatro cúmplices mulheres, igualmente condenadas, as quais abusavam sexualmente de crianças, gravavam os abusos e enviavam as imagens para ele. Casado e pai de dois filhos, Blanchard foi considerado pelo juiz do caso como “desvirtuado, malvado, perigoso, evasivo e manipulador”, podendo passar o resto da sua vida atrás das grades.

Descrito como a mais doentia rede de pedofilia que o país já conheceu, o esquema de Blanchard só foi descoberto quando, casualmente, um sócio da sua empresa de consultoria de informática encontrou imagens de abuso sexual de crianças em seu computador, bem como e-mails trocados entre os envolvidos no escândalo com detalhes dos abusos. Seguidas da sua prisão vieram as das quatro comparsas, uma delas, inclusive, Vanessa George, 40, funcionária de uma creche, fato que chocou o país, sobretudo por ela se recusar a revelar os nomes das vítimas.

E para quem acha que a incidência de mulheres pedófilas é pequena, ledo engano! Elas podem até existir em menor número do que os homens pedófilos, mas as denúncias têm mostrado que elas não são poucas. Na Grã-Bretanha, por exemplo, uma organização não-governamental britânica de proteção a crianças vítimas de violência diz que, anualmente, recebe centenas de denúncias de abuso sexual infantil por parte de alguma mulher. Um e-mail de Blanchard a George, no caso, ventilava a possibilidade de ela “estuprar um bebê até ele morrer”...


Onde este mundo vai parar?




DENUNCIE: DISQUE 100.



Nathalie Bernardo da Câmara


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