domingo, 20 de fevereiro de 2011

O DIREITO DE DIZER NÃO!


“É para lamentar...”.

Dom Manuel Edmilson da Cruz
Bispo de Limoeiro do Norte, no Ceará, indignado com o reajuste salarial de 61,8% dos parlamentares brasileiros em dezembro de 2010.



Desde que, em protesto ao aumento exorbitante dos salários dos senadores, deputados federais e congêneres, o religioso em questão se recusou terminantemente a receber a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara concedida pelo Senado Federal no dia 21 de dezembro do ano passado, já perdi as contas de quantos e-mails foram enviados para a minha caixa postal elogiando a postura do ousado cearense, indicado para a homenagem por sua defesa dos oprimidos. Para dom Manuel, a comenda, no contexto atual, não somente não representa a pessoa que foi o humanista brasileiro dom Hélder Câmara (1909 - 1999) como também a desfigura, acrescentando que, se aceitasse a homenagem, estaria indo contra os próprios direitos humanos, cometendo, ele também, um atentado contra o povo, cujos salários crescem “em ritmo de lesma”, disse. Em tempos para lá de remotos, o filósofo grego Aristóteles (384 - 322 a.C.) chegou a dizer que “o nosso caráter é o resultado da nossa conduta”. Eu contestaria, afirmando que é o nosso caráter que norteia a nossa conduta.





Falando em direitos humanos...


“Em tempos de mentiras universais,
dizer a verdade é um ato revolucionário...”.

George Orwell (1903 - 1950)
Escritor inglês



Quem quiser que acredite que o governo de la presidenta Dilma Rousseff irá abrir os arquivos secretos da ditadura militar (1964 - 1985) no Brasil. Eu, particularmente, sou completamente cética em relação a isso. Nem mesmo diante da sentença, considerada histórica, da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), da Organização dos Estados Americanos - OEA, que, em dezembro de 2010, determinou, por exemplo, a responsabilidade internacional do Brasil pelo desaparecimento de militantes e camponeses que participaram da Guerrilha do Araguaia de 1972 a 1974, decidindo, ainda, que o governo brasileiro teria o prazo de um ano – agora, meses – para investigar toda a documentação referente a esse período histórico. E os tais arquivos não serão abertos não é por nada não. Eles não serão abertos apenas porque não há nem nunca houve interesse algum nesse sentido.

Afinal, se houvesse interesse, os arquivos já teriam sido abertos. E por uma iniciativa do ex-presidente Lula, que, ainda em campanha para o seu primeiro mandato, elegeu como prioridade, caso assumisse, trazer à tona as atrocidades cometidas durante o regime militar. Só que o infeliz passou oito anos presidindo o país e ignorou a promessa que ele e o PT fizeram. Não creio que, agora, será diferente, sobretudo porque la presidenta manteve no Ministério da Defesa um político como Nelson Jobim, independentemente do deputado federal José Genoíno (PT-SP), sobrevivente, inclusive, da Guerrilha do Araguaia, ser o assessor especial do ministro para tratar desse assunto. É como disse a jornalista brasileira Niara de Oliveira: “O fio de esperança que tinha sobre a abertura dos arquivos durante esse governo arrebentou quando a presidenta manteve Nelson Jobim como ministro da Defesa”.

Enfim! O debate a respeito dessa questão polêmica vai continuar sabe-se lá até quando, podendo – não duvido – continuar suspensa durante os próximos quatro anos. O curioso, contudo, é que ao invés de criticar a omissão do ex-presidente Lula, que prometeu fazê-lo, teve tempo e meios suficientes para isso, mas não o fez, a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, se limita a acusar o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o acusando de conivência com os militares, apenas porque ele declarou que, apesar de sempre ter sido a favor da abertura dos tais arquivos, os mesmos não mais existem. E, segundo FHC, sem querer defendê-lo, não seria de hoje que os misteriosos arquivos continuam aparentemente desaparecidos. Bom! Como diria o jornalista e deputado federal Emiliano José (PT-BA): “Uma nação não se constrói ignorando as suas tragédias”...


Nathalie Bernardo da Câmara


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