quarta-feira, 30 de março de 2011

CURTO E GROSSO

As Minas de Alencar



“Só a ignorância aceita e a indiferença tolera o reinado da mediocridade...”.


José Alencar (1931 - 2011)

Empresário brasileiro e ex-vice do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva




Para a jornalista brasileira Eliane Cantanhêde, o livro José Alencar: Amor à vida – A Saga de um brasileiro, de sua autoria, não é uma biografia, mas várias. Mineiro de Muriaé, Alencar foi autodidata e o que se chama self-made man, ou seja, alguém que sobe sozinho na vida. Empresário e líder sindical patronal, apoiou o golpe militar que eclodiu no Brasil em 1964, apoiando, igualmente, o movimento das Diretas Já, que clamava pelo fim do regime autoritário. Anos depois, foi eleito vice-presidente da República do maior líder sindical trabalhista do país, um torneiro mecânico. Na opinião da jornalista, Alencar foi um visionário, capaz, inclusive, de quebrar paradigmas. Quebrou? Segundo o senador Aécio Neves PSDB-MG, presente no velório desse homem de trajetória de vida tão controversa, que lutou, ainda, contra um câncer por quase quinze anos, vindo a falecer nesta terça-feira, 29: “José Alencar foi o grande avalista do presidente Lula para que ele pudesse chegar ao governo”. Foi? Pode até ter sido, mas, daí, quererem, agora, transformar o homem em santo? E se, de fato, ele foi o grande avalista de Lula – leia-se argent e influência – é como se, à época da sua primeira campanha rumo à presidência, Lula em si, sozinho, não tivesse voto suficiente para se eleger. Ou seja, se Alencar não tivesse sido o seu companheiro de chapa, o seu avalista, Lula teria sido eleito?



Vade retro!



“O Bolsonaro é escrotésimo há 30 anos. Descobriu hoje? Onde você passou as últimas décadas? (...) Se ele perder o mandato é um ganho pra nação...”.


André Forastieri

Jornalista brasileiro, reagindo, no twitter, à reação dos internautas à homofobia e ao racismo do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) manifestados contra a cantora e atriz brasileira Preta Gil. O autor publicou inúmeras frases, uma a uma, no dia de hoje, em um espaço de uns 40 minutos. E tem muito mais a respeito do qüiproquó em seu blog.




Não é porque o artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada pela Organização das Nações Unidas - ONU em 1948, diz que “todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão” que o parlamentar em questão tem igualmente o direito de agredir verbalmente quem quer que seja quando expressa uma opinião discriminatória. Afinal, também está previsto no artigo VII que “todos têm direito à igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação”. Isso sem falar na advertência do artigo XII, ou seja, “ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada (...) nem a ataque a sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências e ataques”.


Bom! A polêmica teve início quando, na noite da última segunda-feira, 28, durante o quadro O Povo quer saber, do programa televisivo CQC, exibido pela BAND, ao ser questionado por Preta Gil qual seria a sua reação caso o seu filho namorasse uma mulher negra, Bolsonaro respondeu: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu”. Não deu outra! Ao final do programa, Preta Gil postou no twitter que processaria Bolsonaro: “Advogado acionado, sou uma mulher Negra, forte e irei até o fim contra esse Deputado, Racista, Homofóbico, nojento”. Foi a gota d’água que faltava.


Hoje, no velório do ex-vice-presidente José Alencar, em declaração à imprensa, o parlamentar retaliou: “Todo mundo que quiser entrar com processo é justo. O caminho para resolver os problemas é na Justiça. Agora, que exemplo ela tem de vida para cobrar ética?”. Não temendo perder a cadeira na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, da qual é membro, ele acrescentou, dizendo, ainda, que irá defender as suas idéias: “Quem manda na minha cadeira é o líder do meu partido. Não vou me acovardar por ação da Preta Gil”. Questionado pelos jornalistas sobre se é racista, ele disse: “Racista, eu? Só tem pobre nas Forças Armadas. Como posso ser racista?”. Enfim! No bojo, entrou de quase um tudo: negros, homossexuais...


Acusado de discriminação pelos homossexuais, ele desandou de vez: “Eu estou me lixando para esse pessoal. Criaram aí a frente parlamentar de combate à homofobia, frente gay, aí. O que esse pessoal tem para oferecer para a sociedade? Casamento gay? Adoção de filhos? Dizer que se seus jovens, um dia, forem ter um filho, que se for gay, é legal?” À ocasião, ainda, do programa televisivo Bolsonaro também teria feito comentários hostis contra os homossexuais. Enfim! Se o parlamentar queria chamar a atenção, conseguiu. Nesta quarta, considerando que o deputado cometeu quebra de decoro parlamentar, a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-RJ entrou com uma representação contra ele na Câmara dos Deputados.


Para o presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, “As declarações do deputado Jair Bolsonaro são inaceitavelmente ofensivas, pois têm um cunho racista e homofóbico, incompatível com as melhores tradições parlamentares brasileiras. Por isso, vou oficiar o corregedor da Câmara dos Deputados para abertura imediata de processo por quebra de decoro parlamentar contra o referido deputado. O Congresso não merece ter em suas fileiras parlamentares que manifestam ódio a negros e gays”. Preta Gil, por sua vez, rainha da XV Parada Gay de São Paulo deste ano, esteve presente no lançamento oficial do evento na noite de hoje e desabafou: “Coincidentemente, estou passando por um terror”, disse, aludindo sobre a polêmica com Bolsonaro – um nazista!





“O respeito ao direito alheio é a paz...”.


Benito Juarez (1806 - 1872)

Estadista mexicano



Segundo a Agência Ansa, “o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter foi recebido hoje pelo ex-chefe de Estado cubano Fidel Castro, ocasião em que pediu o fim do embargo [econômico], comercial [e financeiro] que os Estados Unidos mantêm sobre a ilha. ‘Penso que devemos eliminar o embargo’ disse Carter, acrescentando que espera que no futuro Cuba e ‘todos os cubanos sejam completamente livres e os norte-americanos’ possam viajar para a região. Carter, que foi convidado pelo presidente cubano, Raúl Castro, se reuniu com Fidel em seu último dia de visita a Havana. Ele, que já esteve no país em 2002, é o primeiro ex-mandatário dos Estados Unidos a visitar a ilha desde 1959, quando houve a Revolução Cubana. A viagem tem o intuito de melhorar as relações entre os dois países e, segundo a porta-voz de Carter, Deanna Congileo, o ex-presidente também pretendia ‘aprender sobre as novas políticas econômicas e o próximo congresso do partido [Comunista de Cuba, PCC]”.


A viagem a Cuba do ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, contudo, a partir de informações fornecidas pelo jornal O Estado de São Paulo, há 607 dias sob censura, tinha um objetivo particular, o de solicitar a líderes cubanos que libertassem o prestador de serviços norte-americano Alan Gross, 61, que cumpre uma sentença de quinze anos de prisão, “depois de ter sido condenado, no início do mês, por levar equipamentos de comunicação para Cuba de maneira ilegal”. No entanto, Cuba não pretende libertá-lo. De qualquer modo, Carter encontrou Gross em um local não divulgado e o preso político, que continua alegando inocência, disse que, desde que foi preso, em dezembro de 2009, já perdeu quarenta quilos, mas que continua animado. A esperança da defesa é que uma apelação da condenação seja acatada pelo governo cubano. Caso contrário, uma alternativa é a das autoridades do país de perdoarem – não se sabe quando – uma libertação do prisioneiro por razões humanitárias.


Segundo Carter, além de Gross ser “inocente de todos os crimes” pelos quais ele cumpre pena, a sua esposa e a filha do casal sofrem de câncer. Sobre Fidel Castro, já com oitenta e quatro anos, o ex-presidente norte-americano acredita que ele esteja bem de saúde, disse, antes de pegar o avião em Havana e deixar a ilha. A oficialização do embargo dos Estados Unidos a Cuba, por sua vez, com o apoio irrestrito dos seus aliados, remonta ao ano de 1962, quando o então presidente norte-americano era o democrata John Kennedy (1917 - 1963), embora, na prática, Cuba já se encontrasse isolada desde outubro de 1960, quando foi decretado o embargo de todo tipo de mercadoria destinada à ilha. Manifestando-se contrária ao bloqueio – um dos mais duradouros da História moderna, a Assembléia Geral das Nações Unidas, que condena veementemente o bloqueio, já realizou inúmeros protestos reivindicando o seu término, mas o governo dos Estados Unidos, em sua bestialidade, permanece irredutível.



Nathalie Bernardo da Câmara


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