terça-feira, 1 de março de 2011

O FILHO DA DOR


Para escrever, “não preciso de silêncio, não preciso de solidão, não preciso de condições especiais. Preciso só de um teclado...”.

Moacyr Scliar (1937 - 2011) 
Escritor brasileiro



Considerado um dos escritores mais representativos e prolíficos da literatura brasileira contemporânea, o gaúcho Moacyr Jaime Scliar faleceu neste domingo, 27 de fevereiro, de falência múltipla de órgãos, decorrente de um acidente vascular cerebral isquêmico, que o acometeu na madrugada do dia 16 de janeiro. Sétimo ocupante da cadeira de n° 31 da Academia Brasileira de Letras - ABL, Moacyr Scliar foi eleito no dia 31 de julho de 2003, sucedendo o mineiro Geraldo França de Lima (1914 - 2003), cujas honras da casa, quando da sua posse, foram feitas pelo poeta e acadêmico Carlos Nejar, que, aliás, considerou a morte do amigo e conterrâneo como "uma perda muito grande para a literatura brasileira", embora, para ele, só o tempo poderá determinar o tamanho dessa perda, acrescentando: "O certo é que ele era um genial criador e a sua obra vai ser cada vez mais reconhecida. Era uma pessoa sincera, muito cordial com todos. Ele era, sobretudo, um contador mágico de histórias". Já o pernambucano Marcos Vilaça, presidente da ABL, que decretou luto oficial por três dias pela morte do escritor, tido como um dos maiores contistas brasileiros, definiu Moacyr como "um trabalhador literário incansável, um ser humano agradabilíssimo, que nos vai fazer muita falta", declarou.

A paulistana Lygia Fagundes Telles, por sua vez, considera Scliar, de quem gostava muito, melhor contista do que cronista. Segundo ela, ele era "imaginoso, profundo e sério" – qualidades, diga-se de passagem, inerentes ao seu prenome, Moacyr, que, lhe dado por sua mãe após a leitura de Iracema, do escritor cearense José de Alencar (1829 - 1877), significa filho da dor. Sem falar que as suas inclinações literárias, manisfestadas desde a mais tenra idade, já revelavam a sua particular intimidade com as palavras. Não foi à toa que o gaúcho de Porto Alegre publicou mais de setenta livros, contemplando, inclusive, os mais diversos gêneros literários, tendo, ainda, mundo afora, textos de sua autoria adaptados para o cinema, televisão, teatro e rádio, além de muitos dos seus livros terem sido traduzidos para diversos idiomas e o escritor merecedor de inúmeros prêmios e homenagens, no Brasil e no estrangeiro. Na 5ª Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, por exemplo, promovida pela Fundação Nestlé de Cultura, no Centro de Convenções de São Paulo, em 1991 – estive presente –, o homenageado especial do gênero conto foi Moacyr Scliar, para quem, aliás, a grande personagem do conto, "o gênero das sociedades caóticas", como ele mesmo chegou a dizer, não deixa de ser o próprio conto...


Nathalie Bernardo da Câmara


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