sexta-feira, 27 de maio de 2011

DA CIDADE MARAVILHOSA A CIDADE LUZ: 3 MINUTOS E 1/2 DE AGONIA...


“A esperança seria a maior das forças humanas se não existisse o desespero...”.

Victor Hugo (1802 - 1885)
Escritor francês



Divulgado, hoje, pelo Bureau d’Enquêtes et d’Analyses - BEA, organização francesa encarregada da segurança da aviação civil na França e de investigações técnicas de acidentes ou incidentes aéreos civis, no país ou algures, relatório preliminar informando detalhes sobre a queda do Airbus A330 da Air France, que fazia o vôo 447, do Rio de Janeiro a Paris, no dia 1° de junho de 2009, ainda na costa brasileira, nos arredores dos chamados penedos de São Pedro e São Paulo, no Oceano Atlântico, matando 228 pessoas. Segundo o referido relatório, elaborado após o resgate das duas caixas-pretas da aeronave, uma que registra dados do vôo e a outra que contém a gravação de voz na cabine da aeronave, 3 minutos e meio foram necessários para que o Airbus A330, que havia alcançado uma altura avaliada em 11.600 metros de altitude, girasse, inesperadamente, da esquerda para a direita, e, a uma velocidade de 10 mil pés por minuto, despencasse, tragicamente, com o bico para cima, no mar...

À época, “o presidente da Federação Internacional das Associações de controladores de Tráfego Aéreo - FACTA, Mark Baumgartner, disse que o desaparecimento de aviões de telas de radar durante o vôo é ‘raríssimo’”, explicando que, “em certos casos, o avião deve realizar um pouso de emergência no meio do caminho”. Ocorre que, em pleno oceano, impossível, já que a aeronave em questão não era fragata para pousar, em terra ou no mar, independentemente do problema apresentado. À oportunidade, o metereologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC, do Instituto de Pesquisas espaciais - Inpe, Marcelo Celuchi, disse que “a região onde o vôo 447 desapareceu é uma região de tempestade contínua, a chamada ‘zona de convergência intertropical’, igualmente não descartando a possibilidade de o avião ter sido atingido por um raio”... (Vôo 447A Bagagem do navegante, 02 de junho de 2009).

Porém, no dia 4 de junho, continuei registrando: “Segundo o jornal Le Monde, o piloto aposentado Jean-Pierre Moutté, disse que a rota Rio-Paris é bastante arriscada, sobretudo a passagem pela linha do Equador. Para ele, o pior momento da rota, onde as condições climáticas são implacáveis, especulando que uma possível causa do acidente teria sido a entrada da aeronave em uma nuvem que a categoria chama de cumulo-nimbus, de impiedosa tempestade, embora os aviões costumem ter dois radares para evitar esse tipo de confronto: ‘Os núcleos dessas nuvens são altamente instáveis, com ventos ascendentes e descendentes e gelo’”, afirmou. Em seu relatório, contudo, o BEA praticamente isentou a Airbus e a Air France da responsabilidade pelas causas do acidente envolvendo o vôo 447, realizado pelo Airbus A330, inocentando, ainda, os pilotos da aeronave, não ventilando, portanto, a possibilidade de erro humano no acidente.

Pelo visto, vai sobrar para a zona de convergência tropical, mencionada pelo Inpe – ou a tal da nuvem cumulo-nimbus –, para a tempestade ou para algum raio perdido... Quiçá, ainda, para o somatório dos quatro ou mais fenômenos naturais que, ninguém explica direito, ocorrem no espaço aéreo da região. O fato é que, de ontem para hoje, o jornal francês Libération denunciou que, segundo análise de especialistas outros, não há como negar falhas no funcionamento das sondas pitot, no caso, responsáveis pela medição da velocidade de uma aeronave, bem como falhas nos procedimentos, que se subtendem humanos, para a operacionalização dessas sondas, sendo o acidente, para a Justiça francesa, considerado homicídio culposo – quem será acusado? –, embora dúvidas já tenham sido semeadas... Enfim! O mais dramático: o resgate, no fundo do mar, mais precisamente nas águas mais profundas do Oceano Atlântico, que são o dos corpos das vítimas do vôo 447 pela equipe do BEA.

Hoje, a respeito, nenhum avanço para os resgates dos corpos, mas, até a última terça-feira, 24, é de conhecimento público que, pelo menos, o que sobrou das 29 das vítimas supostamente resgatadas da tragédia – eu, que escrevo, e você, que lê o que escrevo, também poderia (ou poderíamos) ser vítimas e mortas (mesmo que supostamente – imagine uma realidade) – foi recuperado: inteiro. Sim, porque, se certos corpos estiverem pela metade, sem todos os seus membros originais, a equipe francesa do BEA, pelo que eu entendi, não resgata... Que absurdo! E as famílias das vítimas não entendem – nem poderiam –, atribuindo a atitude do BEA à falta de interesse do organismo a gastar dólares (não seriam euros?) a mais para cumprir a tal missão, que, inclusive, é da sua responsabilidade. Bom! Quem entenderia? Afinal, como eu já disse neste blog, todos – basta bom senso – sabem que não poderão encontrar perfeição em corpos que despencaram das alturas, se estatelando no mar – um mar, aliás, “com ondas de mais de dois metros de altura e profundidades variando de três a quatro mil metros, além de cadeias montanhosas”.

E mais! Em seu fundo, “fortes correntes marítimas, tragando, inexoravelmente, as 228 pessoas que estavam a bordo da aeronave: 126 homens; 82 mulheres; 07 crianças; 01 bebê –alguém já se preocupou em saber quem era o recém-nascido? [alguém já encontrou o corpo da criancinha ou o que sobrou dela?] –  (passageiros) e 12 tripulantes”. Sem falar, como eu também já disse antes – apenas constatando um fato, pois conheço o lugar, sobretudo o arquipélago de Fernando de Noronha –, que a região onde o avião caiu e onde os corpos se espalharam é, sem querer aumentar o drama, o habitat de tubarões, cuja incidência maior é a de duas espécies nada simpáticas: a do tubarão-baleia (rhincondon typus) e a do tubarão-martelo (sphyma mokarran)... Sei não, mas, eu que já fiz essa rota, inclusive a do vôo 447, uma das 05 que, via aérea, dá acesso do Brasil à Europa e à África, tremi de arrepio quando, em 2009, soube da notícia. Por fim! Feliz de quem perdeu o tal vôo, adiou ou, em cima da hora, desistiu de embarcar. Quem sabe, talvez, não seja melhor, daqui para frente, ir para a Europa de navio?

Que me perdoe, por assim dizer, o meu querido Santos Dumont (1873 - 1932), brasileiro, inventor do avião, do qual sou fã, já que, ainda sendo gestada, viajei em um... E que todos, os que perderam os seus entes queridos, ou os impactados por falta de respostas, cobrem por justiça em relação à tragédia do vôo 447!

Nathalie Bernardo da Câmara


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