sexta-feira, 6 de maio de 2011

FÉ CEGA, FACA AMOLADA...


“As verdades são múltiplas. Só a mentira é global...”.

José Saramago (1922 - 2010)
Escritor português



Fé não é, necessariamente, apenas sinônimo de crença religiosa, não importa qual, já que também pode ser fidelidade a uma dada ideologia ou a uma causa, independentemente da sua natureza, bem como, por exemplo, a certo time de futebol ou, simplesmente, acreditar piamente em algo, confiar em alguém ou, até mesmo, em um bichinho de estimação, lhes dando crédito. Porém, a fé que questiono, aqui, é a fé chamada do carvoeiro, ou seja, quando a crença – seja ela qual for – é cega e o crente, individual ou coletivamente, se bitola apenas naquilo que acredita, negando toda e qualquer possibilidade de outras crenças igualmente existirem, como se houvesse apenas uma verdade no mundo – a sua –, esquecendo, inclusive, que, em hipótese alguma, existe verdade absoluta, mas, sim, verdades relativas, opiniões distintas, com direitos, aliás, de possuírem, cada uma, os seus hectares de valores no planeta Terra. Daí que, quando cega, a fé, qualquer que seja ela, gera o mais podre dos frutos, que é o fanatismo – provedor de discórdias, de conflitos, de guerras insanas... Da faca amolada. Por isso que, no que diz respeito a todos os casos acima mencionados, à cegueira se contrapõe a lucidez.

Enfim! Toda essa introdução porque, independentemente das opiniões divergentes e polêmicas acerca do assassinato do ex-líder mulçumano Osama Bin Laden (1957 -2011) no último domingo, 1° de maio, no Paquistão, a mando do presidente norte-americano Barack Obama, que quis vingar os atentados contra os Estados Unidos no dia 11 de setembro de 2001, eu, particularmente, tenho a minha opinião: repudio todo e qualquer tipo de violência. Guerras, então! Estéreis, estúpidas, não importam as motivações de quem as promovem, visto que elas apenas representam atrasos de vidas e exemplos de involução humana. Sem falar que ninguém tem o direito de tirar a vida de outrem e todo assassinato traduz-se em terror, seja de uma pessoa, de dez, de cem, de um milhão... E nem me venham com a falácia da inevitabilidade de danos colaterais para justificarem as baixas comumente ocorridas em períodos de conflitos bélicos, sobretudo as de civis inocentes! Como eu disse no texto Obama x Osama..., postado neste blog no dia 2 do corrente: “Toda vingança pode ser de mão dupla e vir a galope... Obama perdeu o juízo? Afinal, com o seu gesto, mexeu em um ninho de vespas”.

O pior é que, exultando com o seu feito, o presidente norte-americano chegou ao cúmulo de afirmar que a morte do homem considerado o inimigo n° 1 dos Estados Unidos foi um alívio para o mundo, fazendo deste um lugar melhor e mais seguro... Porém, em minha opinião, acho que, pondo termo à vida do ex-líder mulçumano, Obama igualmente pôs em risco a segurança da população norte-americana, que, de repente, poderá vir a sofrer novos atentados terroristas. Exemplo do que digo foi o alerta que, em artigo publicado nesta quinta-feira, 05 (reproduzido neste blog no original, em espanhol, bem como em português), o ex-presidente cubano Fidel Castro fez ao mundo, mas, sobretudo, aos Estados Unidos, advertindo que, com o assassinato de Osama, o povo norte-americano está mais vulnerável a eventuais ataques de fundamentalistas islâmicos. Lucidamente, no auge dos seus 85 anos de idade, o líder comunista acrescentou que, passada “a euforia inicial” com a morte de Bin Laden, os próprios norte-americanos findarão por criticar os métodos que, longe de protegê-los, poderão, infelizmente, desencadear represálias contra os Estados Unidos. Rogo que não...



Nathalie Bernardo da Câmara



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