sábado, 30 de julho de 2011

TERIA SIDO EVA SEDUZIDA PELA SERPENTE VIA WEB?


“O homem que porta uma arma é um covarde...”.

Mahatma Gandhi (1869 - 1948)
Advogado e pacifista indiano




E não importa a arma. No caso, as mais comuns são as de fogo ou as ditas brancas (faca, facão etc), embora, necessariamente, existam, igualmente, outros tipos de armas. A própria palavra, por exemplo, também é uma forma de arma e, dependendo do contexto e do modo em que ela é proferida, pode até surtir mais impacto do que qualquer outra, não importa qual. Isso sem falar de certas ações... Essas, então! Infelizmente, a maioria das pessoas não se dá conta disso, não medindo, portanto, as consequências dos seus gestos, recorrendo a atitudes arbitrárias, prepotentes, arrogantes, invasivas, ou seja, de maneira abusiva, na maioria das vezes provocando danos irreversíveis, desencadeando traumas – sabe-se lá mais o quê. É um acinte! Respeito à individualidade e à privacidade? Isso não nos pertence mais. Não existe. É mera utopia. Muitas vezes, inclusive, nos negam, até, a nossa própria identidade, bem como desconsideram os nossos direitos constitucionais.

Não obstante, escrevendo o parágrafo acima, casualmente lembrei-me de uma passagem do livro Caim, de José Saramago (1922 - 2010), publicado em 2009, polêmico tais quais as declarações do escritor português. A referida passagem, portanto, diz o seguinte, ressaltando que Saramago costumava referir-se aos nomes bíblicos, visto a sua aversão pelos mesmos, no diminutivo:

“Tendo conhecido o bem e o mal [a árvore do conhecimento, da qual eva colheu a maçã que, supostamente, viria a desandar os destinos da humanidade], o homem [disse o senhor referindo-se a Adão] tornou-se semelhante a um deus, agora só me faltaria que fosses colher também do fruto da árvore da vida [a árvore da imortalidade] para dele comeres e viverem para sempre, não faltaria mais, dele comeres e viveres para sempre, não faltaria mais, dois deuses no universo, por isso te expulso a ti e a tua mulher deste jardim do éden [já seria do conhecimento de Eva que a maçã emagrece?], a cuja porta colocarei de guarda um querubim armado com uma espada de fogo, o qual não deixará entrar ninguém, e agora vão-se embora, saiam daqui, não vos quero ver nunca mais na minha frente”.

Porém, antes de proferir palavras tão duras, o considerado todo-poderoso providenciou algumas peles de animais para “tapar a nudez de adão e eva, os quais piscaram os olhos um ao outro em sinal de cumplicidade, pois desde o primeiro dia souberam que estavam nus e disso bem se haviam aproveitado”. Desse modo, “carregando sobre os ombros as fedorentas peles, bamboleando-se sobre as pernas, trôpegas adão e eva pareciam dois orangotangos que pela primeira vez se tivessem posto de pé. Fora do jardim do éden a terra era árida, inóspita, o senhor não tinha exagerado quando ameaçou adão com espinhos e cardos”.

A arma utilizada, nesse caso, qual foi? As palavras ásperas do dito senhor das supostas verdades e a privação da “boa vida”, como disse o escritor, à qual, antes, havia legado a Adão e à Eva. Eu, particularmente, não teria deixado barato tamanho abuso de poder e desrespeito a minha dignidade humana, embora, como eu já disse em uma postagem anterior, intitulada Adão, Eva e a serpente, parte III, da série Que seja feita a vontade de Deus?, publicada originalmente no dia 01 de junho de 2010 e republicada no dia 14 de maio de 2011, adão não passou de uma clonagem de Deus, já que, segundo os textos bíblicos, ele, Adão, não era que a sua imagem-semelhança. Sei não, mas, hoje, o nome disso chama-se clonagem. E, em muitos casos, considerada crime – lamentavelmente, àquela época, não existia nenhum tipo de legislação – a não ser a oral, imposta por Deus e sem direito à contestações –, tipo uma constituição ou um código penal que freasse certos abusos e aberrações cometidos por uma certa entidade considerada divina, que, segundo Saramago, foi criada pela mente humana apenas para servir de muleta. Para muitos, um insignificante bicho-papão.

Enfim! Coitado de adão [e de eva também], que, antes da reprimenda que recebeu de Deus por ter aceito comer a deliciosa e perfumada maça que eva o ofertou [a suposta influência da serpente é nula], ouviu do arrogante proprietário do Jardim do Éden que, um dia, ele viria de novo a se transformar em terra, “pois dela fostes formado, na verdade, mísero adão (olhe o desrespeito à dignidade do iminente indigente), já que tu és pó e ao pó um dia tornarás”. Eita! Quem diria que a cremação – hoje tão em voga (e eu a defendo, querendo, inclusive ser cremada envolta em aromas de agradáveis incensos de cedro, sendo as minhas cinzas lançadas ao mar de Baía Formosa, caso as águas da mesma, claro, já tenham sido despoluídas) – remonta à surreal criação dos dois primeiros ditos humanos, embora a sua iniciativa – a da cremação – tenha partido do seu arrogante criador? Ai, ai, ai... Que história mal contada. Pior do que as dos contos da Carochinha! Daí valer a pena conhecer a versão do que ocorreu no Jardim do Éden em Caim, de Saramago. E, para quem tiver uma mente livre, desprovida de preconceito e discriminação, no intuito de ampliar os conhecimentos da sua mente, bon courage!


Nathalie Bernardo da Câmara



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