quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A LIMITAÇÃO NÃO É RELATIVA


“A pior cegueira é a dos que não sabem que estão cegos...”.
(1920 - 1977)
Escritora e jornalista brasileira nascida na Ucrânia


Outro dia, em um supermercado, entrei, sem perceber, no caixa destinado a idosos, grávidas e a pessoas portadoras de algum tipo de limitação – não se diz mais deficiência. De pronto, a mulher do caixa pediu que eu me retirasse, já que não estava incluída em nenhuma, digamos, das normas estabelecidas para ser contemplada por tal benefício – normas essas, diga-se de passagem, concebidas a partir de errôneos conceitos. Afinal, no caso da visão, uma coisa é ser totalmente cego – aí é cegueira mesmo. Igual, por exemplo, a do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899 - 1986), que, de fato, não enxergava nada – ele foi perdendo a visão gradativamente –, passando, ao alcançar a cegueira total, a necessitar de terceiros para redigirem os livros que ditava, a andar de bengala e a ter direito a demais regalias concedidas a um verdadeiro e autêntico cego.

Então... Os estabelecimentos comerciais que estampam em seus caixas ditos preferenciais para idosos, grávidas e deficientes – limitadas – deveriam rever os seus conceitos e passarem a admitir míopes nesse leque de preferências. Afinal, o nome já diz: limitação. No caso da visão... Tire os óculos de um míope, por exemplo, que, dependendo do seu grau e, sobretudo, a noite, para ver se ele chega à esquina! Se isso não for limitação, eu já não sei mais de nada. Digo isso porque, na condição de míope desde criança, ficou desorientada quando não encontro os meus óculos de grau – tenho três. Para dirigir, então! Não é à toa que para se tirar uma carteira de motorista, os candidatos devem submeter-se a um exame oftalmológico. Tanto que, se ele for míope, fica registrada a sua limitação na carteira de motorista. E, sem óculos, em uma barreira policial, nada de dirigir carro.

A coisa é tão séria que, a título de informação, direi que quando fui vítima de um sequestro-relâmpago no Rio de Janeiro, a primeira coisa que o sequestrador fez foi tirar os meus óculos de grau. Ou seja, mais acuada eu não poderia ficar. Ocorre que os meus óculos escuros têm grau – coisa que ele desconhecia – e logo os tirei da bolsa e os coloquei. Para agravar ainda mais a situação, era de noite e eu estava em um lugar onde, até então, nunca tinha ido. Foi uma aflição ao cubo! De qualquer modo, sobrevivi aos maus tratos do meliante e cá estou a contar histórias. Enfim! Se há uma lei que beneficia idosos, grávidas e alguns ditos limitados – quais, mesmo? –, que essa lei seja revista e inclua os míopes no rol dos limitados físicos, sobretudo porque dos nossos cinco sentidos a visão – pelo menos, em minha opinião – é o mais importante e necessário de todos.

P.S.: Ao final, diante dos meus argumentos, fui atendida no caixa preferencial.


Nathalie Bernardo da Câmara



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