sábado, 24 de março de 2012

CHICO ANYSIO: Não tenho medo de morrer, tenho pena. (...) Mas, que bom que valeu!


Chico Anysio

(1931 - 2012)
Humorista, ator, escritor e pintor brasileiro, notório, sobretudo, por seus inúmeros quadros e programas humorísticos na televisão brasileira.


Ele se considerava um contador de histórias. E chegou a dizer que só o humorista é insubstituível – coisa que não concordo. Todos os são. Afinal, a máxima de que somos substituíveis, independentemente do que quer que façamos na vida, acho que só vale para o setor privado, já que, quando, menos se espera, o empregador pode demitir o empregado, visto que o referido setor não dá a estabilidade que, por sua vez, garante, mediante concurso, o setor público. Enfim! Da porção humorística de Chico Anysio (nome artístico do cearense de Maranguape Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, nascido num dia 12 de abril, sendo, portanto, meu companheiro de signo, pois também sou ariana, nascida no dia 13 de abril de 1968), uma das suas personagens que eu sempre mais gostei foi Salomé – quem não se lembra! –, uma idosa gaúcha, natural de Passo Fundo, que, sempre sentada, não desgrudava do telefone, aconselhando o ex-presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918 -1999), cujo mandato presidencial – o último do regime militar instaurado no Brasil em 1964 –, durou exatos seis anos (1979 - 1985). No quadro, um dos que faziam parte de um programa humorístico exibido por uma emissora de televisão brasileira, Salomé nunca mencionava o sobrenome do ex-presidente. Quando não se referia a ele como guri, o chamava de João Batista, o mesmo nome do santo que, na Bíblia, teve a cabeça cortada para satisfazer os caprichos da dançarina Salomé – haja criatividade! –, sendo dois os bordões preferidos da personagem, ou seja: “Barbaridade, tchê!” e “Eu faço a cabeça do João Batista ou não me chamo Salomé!”. Brilhante.



Capa e contracapa do LP lançado em 1974 pelo trio Chico Anysio, Arnaud Rodrigues (1942 - 2010) e Renato Piau



Uma porção, contudo, do já saudoso Chico Anysio que eu cheguei bastante a apreciar quando ainda era criança foi a de compositor e cantor. Lançado em 1974 por Chico Anysio e o seu grande parceiro Arnaud Rodrigues, ator, compositor, cantor, redator e humorista, além do guitarrista, compositor e cantor Renato Piau, o disco de vinil Baiano &; os novos Caetanos por muitas vezes embalou a nossa infância, a minha e a da minha irmã. A ideia do grupo, contudo, nasceu da revolta que provocou no meio artístico a prisão, seguida do exílio, dos compositores e cantores brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil por ordem da ditadura militar, que, inclusive, censurou a divulgação do fato pela imprensa. O nome do trio, por sua vez, foi uma homenagem satírica ao compositor e cantor Caetano e ao conjunto musical Os Novos baianos. As composições, portanto, do trio Baiano & os novos Caetanos eram, apesar de engajadas, denunciando, nas entrelinhas dos seus versos, muitos dos problemas políticos e sociais da época, tipo a fome, a opressão e a censura, além das críticas à situação econômica do país e ao falso milagre econômico brasileiro, que de milagroso não tinha nada, embora essa fosse a ideia que os militares quisessem passar para o povo, extremamente alegres. Tanto que, em 2008, em uma das minhas passagens pelo Rio Grande do Norte, a minha irmã chegou um dia com um CD, lançado no ano mencionado – se eu estiver errada em relação à data que alguém me corrija –, contendo o mesmo conteúdo, inclusive a capa, do primeiro LP da dupla, e nos divertimos muito, relembrando o passado, cantando e interpretando juntas as composições do disco.

Gosto muito de: Vô bate pá tu; Urubu tá com raiva do boi; Ciranda; Folia de Reis. Abaixo, portanto, links para as respectivas composições:






Ah! Tem também uma pérola que, meramente por acaso, encontrei na internet:



Enfim! Certa feita, um repórter teria perguntado a Chico Anysio a definição de humor.
À ocasião, Chico respondeu: — Essa [a pergunta] quem vai responder é Gilberto Gil.
Não é que Gil respondeu! E bonito. Ou seja, segundo ele: — O humor é a desobstrução do cérebro.

Vamos, então, em homenagem a um dos maiores humoristas que este país já teve, mas que, infelizmente, na tarde desta sexta-feira, 23, na sempre tão bela Cidade Maravilhosa, que é o Rio de Janeiro, nos deixou, aos 80 anos de idade, partindo sabe-se lá para onde, dá vazão ao riso, coisa que Chico Anysio tanto apreciou e, provavelmente, gostaria que estivéssemos fazendo agora, ou seja, rindo – melhor, dando boas e boas gargalhadas, lembrando, quiçá, apesar da sua triste ausência, das inúmeras personagens que, sempre tão criativo, ele pôs no mundo, nos legando, assim, o seu habitual humor...


Nathalie Bernardo da Câmara










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