quarta-feira, 2 de maio de 2012

UMA COISA É UMA COISA, OUTRA COISA É OUTRA COISA...

“A humanidade é infeliz por ter feito do trabalho um sacrifício e do amor um pecado...”.

Henrique José de Souza (1883 - 1963)
Teósofo brasileiro


Nesta terça-feira, 1º, eu já havia publicado uma postagem pela passagem do Dia Mundial do Trabalho quando senti vontade de tecer mais algumas palavras sobre o tema e, desta vez, com uma abordagem bem mais específica, visto que, de certa forma, por mais que eu tivesse homenageado a data, o que fiz, na verdade, foi uma denúncia, tentando alertar o mundo do engodo que é a presidente da Libéria, que, aliás, nem com toda magia da cultura africana, se tornaria merecedora do mais importante prêmio do mundo, que é o Nobel da Paz, embora, em 2011, ela o tenha recebido por uma questão, digamos, de equívoco. Assim, antes que eu prossiga com a redação desta postagem, gostaria de deixar registrado o link que leva o leitor – caso ele queira, óbvio – diretamente ao texto no qual fiz a mencionada denúncia: http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2012/05/1-de-maio-dia-mundial-do-trabalho.html

Enfim! Como eu havia recentemente recebido um e-mail da rede Avaaz – “organização não governamental que, desde 2007, mobiliza milhões de pessoas em todo o mundo para agirem em causas internacionais urgentes – da pobreza global aos conflitos no Oriente Médio e as mudanças climáticas”, entre outras –, no qual divulgava uma petição em busca de assinaturas para tentar sensibilizar la presidenta Dilma Rousseff e o Congresso Nacional para, nos próximos dias, votarem a favor da PEC 438/2001 do trabalho escravo, que, aprovada e posteriormente sancionada, erradicaria de vez essa chaga social que, em pleno séc. XXI, bem que poderia ser considerada como crime contra a humanidade, não deixando, contudo, de punir exemplarmente os responsáveis por essa mazela que só entristece e envergonha o Brasil e o seu povo, decidi escrever a respeito e foi o que fiz. Assim, para quem quiser participar da virada dessa página da História do nosso país, maculada de sangue, suor e lágrimas de centenas de milhares de seres humanos inocentes, é só clicar no link a seguir: http://www.avaaz.org/po/stop_slavery_in_brazil/?vl

O curioso é que, ao iniciar a postagem que pretendia publicar sobre o trabalho escravo, de repente me vi diante de um texto não somente longo, mas também complexo. Assim, pensei melhor e decidi dividi-lo em três. Foi o que fiz: postei devidamente os dois primeiros e, agora, me resta apenas o que ora escrevo, ou melhor, tento escrever, visto que, até chegar propriamente nele – já escrevi dois parágrafos e nada! –, ainda estou a divagar, de tão prolixa que sou, correndo o risco, portanto, do teor desta postagem, apesar de praticamente formatada, ter se enfadado – imagine, então, o leitor! – e passado a flanar noutras paragens. Enfim! Quando escolhi a epígrafe que viria logo abaixo da ilustração do antigo texto original, de cara percebi que uma não combinava com a outra nem, muito menos, com a proposta da postagem, apesar de achar a frase instigante e que, de alguma forma, eu deveria aproveitá-la. Tanto que o seu destino terminou sendo, querendo ou não, a presente postagem, fazendo parceria, contudo, com outra ilustração que, aliás, também não lhe cai bem. Não obstante, reconheço que, de certa forma, o seu teor encontra amparo no título, que, por sua vez, caiu como a uma luva para a charge. Mas, chega de rodopios! – coisa, inclusive, quem nem posso, devido o pé direito quebrado – daí, talvez, os devaneios –, embora os neurônios estejam literalmente nas alturas, o que é compreensível. Afinal, não dizem – ou estou inventando? – que uma limitação, não importa a sua natureza, é capaz de derrubar fronteiras outras! Vejamos, então...

Discordando plenamente com os dizeres da epígrafe eleita para esta postagem, mas, como eu já disse, de certa forma ela instiga algo em mim. Afinal, quando a encontrei meramente por acaso, certas questões me vieram à mente, achando que, por isso, poderia desenvolver alguma ideia a partir do seu sentido. Enfim! O trabalho em si, convenhamos, quando é exercido por escolha própria, é realizado, inclusive, com prazer, porque se está fazendo o que se gosta, não sendo, portanto, encarado como sacrifício. A não ser, claro, quando o trabalho – não importa qual – é exercido por falta de opção, apenas com o intuito de garantir o sustento do dia a dia, ou seja, por mera sobrevivência – situação essa, aliás, que se caracteriza como uma obrigação necessária e que, infelizmente, ocorrem a 3x4 em qualquer parte do mundo. Agora, no caso do trabalho escravo, por exemplo, o labor não é nem um prazer nem, muito menos, uma obrigação voluntária, mas uma imposição de outrem – daí ser uma obrigação involuntária. O fato é que, para atraírem desempregados à procura de trabalho – a demanda é uma fila a perder de vista (estamos a falar de Brasil) –, muitos latifundiários, por exemplo, ou fazendeiros de não importa a extensão das suas terras, recorrem a artimanhas várias para fazerem daqueles que, de boa fé, acreditam nas suas propostas de faz-de-conta, tipo benefícios que nunca irão sequer vislumbrar, uma leva farta e submissa de trabalhadores escravos. Tanto que, nem mesmo nesse caso, o sentido que o autor da epígrafe quis dar ao trabalho imbuído de sacrifício encaixa-se no contexto da escravidão braçal.

Agora, quanto à afirmação de que a humanidade é infeliz porque fez do amor um pecado... Essa, então, nem vale à pena comentar! É cristão demais para o meu gosto. Isso sem falar que um argumento baseado em dogmas, independentemente da religião que tenta mantê-los e sustentá-los, não desperta interesse nem mesmo nos mais obtusos dos meus neurônios – se é que eu possuo algum neurônio obtuso. Porém, como algo dentro de mim começa a gritar quando vejo certos absurdos, sobretudo se certos absurdos beiram ao surrealismo – não sou lá muito simpática ao movimento que surgiu na Europa logo após a Primeira Grande Guerra Mundial (1914 - 1918), contrário a todas as formas de convenções lógicas, embora eu valorize os sonhos, os instintos do desejo e os da revolta, como pregavam os surrealistas. Daí que quando uma coisa soa absurda demais para mim, costumo me abstrair, indo cantar, como se diz, noutra freguesia, ou, então, cedo nem que seja só um pouquinho e dispenso certa quantidade, embora limitada, de palavras sobre o absurdo que, de repente até sem intenção, me afrontou. No caso, para começo de história, quem disse que o amor é pecado? Isso sem falar que pecado, ainda mais com o conceito que lhe deram – coitado! – só existe na cabeça de certas pessoas, não na de outras. O que dirá na minha, desgarrada que é de toda sorte de dogmas e, por conseguinte, de todas as religiões! Afinal, não nasci nem me formei para especular o que quer que seja nem, muito menos, raciocinar tendo hipóteses como ponto para não importa qual partida. Nasci e me formei para constatar fatos e, pelo que me consta, o fato ou o ato de amar não se constitui transgressão alguma. Isso sem falar que quem ama não deve sentir-se culpado por amar, como se estivesse cometendo um grave delito, um crime, passível de penalidades previstas em códigos penais civis elaborados por legisladores com o mínimo de discernimento – a não ser que tais penalidades residam em algum plano outro que não o terrestre, quiçá etéreo. Nesse caso, a coisa se torna ainda mais preocupante, visto que, na condição de humanos, não podemos, por uma questão de bom senso, nos deixar intimidar por ameaças que são feitas por religiões que, de tão, alquebradas, não sabem definir nem mesmo o que seja maniqueísmo. Importante, portanto, tomar cuidado com essas ameaças e fazer vista grossa para eventuais penalidades que, através de uma lavagem cerebral, muitos querem nos infligir – penalidades essas, inclusive, ainda mais surreais do que o incongruente conceito de pecado, que, por sua vez, deve se resumir a um mero grunhido de algum frustrado na vida que, para o bem da maioria, deve ficar soterrado nas profundezas da mais árida das terras, sem direito nem mesmo a um poço de água potável para, destituído de forças, fenecer na secura de algo que nunca conheceu, ou seja, o coração. Quanto a nós, podemos até ser meras embalagens, metaforicamente falando, claro, mas embalagens cuja matéria-prima e os seus respectivos conteúdos – não importam quais – somente a nós dizem respeito, visto que nos pertencem...

Nathalie Bernardo da Câmara


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