sábado, 18 de maio de 2013

LE MONDE: MARINA SILVA É “UMA CANDIDATA DA ADVERSIDADE”.

 Marina Silva em 2010.∣ AP/Nelson Antoine


No Brasil, Marina Silva considera-se a “guardiã das utopias”

Nicolas Bourcier
Enviado especial do Le Monde a Brasília
16 de maio de 2013

Tradutor: Lana Lim


Afável, frágil, determinada, por escolha e por natureza, ela parece fugir de padrões. Aos 55 anos, Marina Silva está voltando ao primeiro plano do cenário político brasileiro, menos de dois anos depois de ter saído do Partido Verde, com o qual obteve 20 milhões de votos na eleição presidencial de 2010 e tirou uma vitória de primeira de Dilma Rousseff, sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva. Um desempenho sem precedentes para uma candidatura ambientalista em uma grande democracia.

Com a mão estendida, o rosto marcado pelo cansaço, a ex-ministra do Meio Ambiente do presidente Lula nos recebe em uma sala de reuniões vazia de um prédio sem graça de Brasília, como se para enfatizar melhor a distância que a separa de seus principais adversários. "Eles fizeram de tudo para impedir nossa existência", ela sussurra.

Dois meses de áridas batalhas para obter o reconhecimento de seu novo partido, criado em fevereiro, a Rede Sustentável, a convenceram de que os pesos pesados da coalizão governamental, o Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, centro), estavam dispostos a tudo para evitar uma nova "surpresa Marina" na eleição presidencial de 2014.

"CRISE DE CIVILIZAÇÃO"

No dia 18 de abril, a Justiça lhe deu um primeiro sinal verde para a inscrição de seu partido no registro oficial. "Agora eles estão tentando suprimir o acesso à propaganda eleitoral gratuita para os novos partidos", ela diz. "É exaustivo. Consegue imaginar uma máquina de guerra como essa por alguns segundos de aparição diária na TV?" E complementa: "O que eles não entendem é que quanto mais se tenta sufocar um partido, mais ele cresce. Veja o PT, por exemplo, os militares fizeram de tudo para silenciá-lo na época."

Marina Silva é isso. Uma candidata da adversidade, com uma fala determinada sob a aparência de um corpo frágil, outrora maltratada pelas durezas da vida na Amazônia, sua terra de origem: "Estamos vivendo uma crise de civilização – econômica, social, ambiental, ética e política. Não é fácil enfrentar tais mudanças. Mas o principal é se conscientizar de que a única saída é a implantação de uma verdadeira política de desenvolvimento sustentável."

Coragem não falta para Marina. A ascensão dessa ambientalista de primeira hora lembra a de Lula, o filho pobre do Nordeste que se tornou presidente. Oriunda de uma família numerosa – três dos irmãos não sobreviveram à miséria e à malária, órfã aos 14 anos, ela logo foi obrigada a se tornar seringueira em plena selva do Estado amazônico do Acre. Doente de malária e hepatite, ela foi se tratar em Rio Branco, capital do Estado. Foi lá que, aos 16 anos, fez um curso de alfabetização em uma comunidade religiosa, trabalhou como empregada doméstica, pensou em virar freira e por fim ingressou na universidade e se formou em História. Militante contra a ditadura, ela era próxima de Chico Mendes, o ícone do ambientalismo assassinado em 1988.

DILMA ROUSSEFF "NÃO FEZ NADA EM DOIS ANOS"

Naquele ano, sob a bandeira do PT criada pelo metalúrgico Lula, ela se tornou a vereadora mais votada de Rio Branco. Deputada na Assembleia Legislativa do Acre, aos 35 anos ela se tornou a mais jovem senadora da história do Brasil. Reeleita em 2002, entrou para o governo Lula com a pasta do Meio Ambiente.

"Nós realizamos muitas coisas", ela diz. "As emissões de CO2 foram reduzidas em dois milhões de toneladas, o desmatamento recuou 80% e cerca de 120 mil hectares de terras foram atribuídos aos índios. E o que a maioria presidencial fez até agora? Com a reforma do código florestal ou ainda as modificações dos direitos de exploração mineradora, ela está ameaçando essas conquistas."

Apesar da grande estima que tem por Lula, Marina Silva deixou o governo e o PT em 2008, depois de ter que engolir a aliança do governo com o complexo agroindustrial, a legalização da soja transgênica e a construção de usinas hidrelétricas na Amazônia, uma questão na época defendida pela ministra de Energias, Dilma Rousseff, que "não fez nada em dois anos, a não ser por um retrocesso nas questões ambientais", ela lança com um olhar severo.

"REFERENDO SOBRE O ABORTO"

Candidata presidencial do Partido Verde em 2010, Marina Silva passava a imagem de uma personalidade contraditória, socialmente conservadora e politicamente progressista. Membro desde 1997 da Assembleia de Deus, uma das principais Igrejas evangélicas do Brasil, ela se posicionou contra o aborto, independentemente das circunstâncias. Hoje ela parece ter mudado: "Isso faz parte dos temas complexos que merecem ser discutidos. Assim como para a legalização da maconha, sou a favor de um referendo sobre essa questão do aborto."

Para aquela que se considera a "guardiã das utopias", a próxima campanha promete ser acirrada. Marina diz ter coletado, até o momento, 200 mil assinaturas das 500 mil necessárias, antes do início do mês de outubro, para entrar na corrida presidencial. "O movimento vai se acelerar, as equipes estão se posicionando."

Além da candidatura do principal partido de oposição, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Marina Silva poderá ser seguida de perto pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a estrela em ascensão do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que faz parte da coalizão governamental. Ela despreza essa possibilidade: "O que ele representa no país?"

Hoje, duas pesquisas lhe dão de 16% a 18% das intenções de voto, bem atrás dos 54% da presidente Dilma Rousseff, que vai se recandidatar. "Acredite, está havendo uma mudança de paradigma. Esse país possui o potencial de ser no século 21 o que os Estados Unidos foram no século 20."




No original...



Au Brésil, Marina Silva se veut la “gardienne des utopies”

Nicolas Bourcier
16 de maio de 2013

Brasilia, envoyé spécial. Douce, frêle, déterminée, par choix et par nature, elle semble échapper aux modes. A 55 ans, Marina Silva revient sur le devant de la scène politique brésilienne, moins de deux ans après avoir claqué la porte du Parti Vert, avec lequel elle avait recueilli 20 millions de voix à l'élection présidentielle de 2010 et privé d'une victoire dès le premier tour Dilma Rousseff, l'héritière de Luiz Inacio Lula da Silva. Une performance sans précédent pour une candidature écologiste dans une grande démocratie.


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D'une main tendue, le visage marqué par la fatigue, l'ancienne ministre de l'environnement du président Lula reçoit dans une salle de réunion vide d'un bâtiment sans charme de Brasilia, comme pour mieux souligner l'écart qui la sépare de ses principaux adversaires. "Ils ont tout fait pour nous empêcher d'exister", souffle-t-elle.


Deux mois d'âpres batailles pour faire reconnaître son nouveau parti créé en février, le "Réseau durable", l'ont convaincue que les poids lourds de la coalition gouvernementale, le Parti des travailleurs (PT, gauche) et le Parti du mouvement démocratique brésilien (PMDB, centre), étaient prêts à tout afin d'éviter une nouvelle "surprise Marina" au scrutin présidentiel de 2014.


"CRISE DE CIVILISATION"


Le 18 avril, la justice lui a donné un premier feu vert pour l'inscription de son parti au registre officiel. "Maintenant, ils tentent de supprimer l'accès aux spots télévisés gratuits pour les nouvelles formations, poursuit-elle. C'est épuisant. Vous imaginez une telle machine de guerre pour quelques secondes d'antenne quotidienne ?" Elle ajoute : "Ce qu'ils ne comprennent pas, c'est que plus l'on essaie d'étouffer un parti, plus il croît. Prenez le PT, les militaires avaient tout fait en leur temps pour le réduire au silence."


Marina Silva, c'est ça. Une candidate de l'adversité. Avec une parole tranchante sous les apparences d'un corps fragile, autrefois malmené par la dureté de la vie en Amazonie, sa terre d'origine : "Nous vivons une crise de civilisation – économique, sociale, environnementale, éthique et politique. Il n'est pas facile d'affronter de tels changements. Mais l'essentiel est de prendre conscience que la seule issue est la mise en place d'une réelle politique de développement durable."


Marina Silva ne manque pas d'estomac. L'ascension de cette écologiste de la première heure rappelle celle de Lula, l'enfant pauvre du Nordeste devenu président. Issue d'une famille nombreuse – trois des enfants ne survivront pas à la misère et au paludisme –, orpheline à 14 ans, elle est très tôt contrainte de devenir seringueira (récolteuse de latex) en pleine jungle de l'Etat amazonien d'Acre. Atteinte de paludisme et d'hépatite, elle part se soigner à Rio Branco, la capitale de l'Etat. C'est là, à 16 ans, qu'elle suit des cours d'alphabétisation dans une communauté religieuse, travaille comme femme de ménage, hésite à entrer dans les ordres avant de s'inscrire à l'université et décrocher un diplôme d'histoire. Militante contre la dictature, elle est proche de Chico Mendes, l'icône de l'écologie assassinée en 1988.


DILMA ROUSSEFF "N'A RIEN FAIT DEPUIS DEUX ANS"


Cette année-là, sous la bannière du PT créé par le métallo Lula, elle devient la conseillère municipale la mieux élue de Rio Branco. Députée à l'Assemblée législative d'Acre, elle devient, à 35 ans, la plus jeune sénatrice de l'histoire du Brésil. Réélue en 2002, elle rejoint le gouvernement Lula avec le portefeuille de l'environnement.


"Nous avons réalisé beaucoup de choses, glisse-t-elle. Les émissions de CO2 ont été réduites de deux millions de tonnes, la déforestation a reculé de 80% et quelque 120 000 hectares de terres ont été attribués aux Indiens. Et que fait la majorité présidentielle actuelle ? Avec la réforme du code forestier ou encore les modifications des droits d'exploration minières, elle menace ces acquis."


Malgré la profonde estime qu'elle porte à Lula, Marina Silva quittera le gouvernement et le PT en 2008, après avoir dû avaler l'alliance du gouvernement avec le complexe agro-industriel, la légalisation du soja transgénique et la construction d'usines hydroélectriques en Amazonie, un dossier défendu à l'époque par la ministre de l'énergie Dilma Rousseff, qui, lance-t-elle d'un regard noir, "n'a rien fait depuis deux ans, excepté un retour en arrière sur les questions environnementales".


"RÉFÉRENDUM SUR L'AVORTEMENT"


Candidate présidentielle des Verts en 2010, Marina Silva renverra l'image d'une personnalité contrastée, socialement conservatrice et politiquement progressiste. Membre depuis 1997 de l'Assemblée de Dieu, une des principales Eglises évangéliques du Brésil, elle a pris position contre l'avortement, quelles qu'en soient les circonstances. Aujourd'hui, elle paraît avoir évolué : "Cela fait partie des sujets complexes qui méritent débat. Tout comme pour la légalisation du cannabis, je suis pour un référendum sur cette question de l'avortement."


Pour celle qui se veut la "gardienne des utopies", la prochaine campagne s'annonce serrée. A ce jour, elle dit avoir récolté 200 000 signatures sur les 500 000 nécessaires, avant le début du mois d'octobre, pour entrer dans la course présidentielle. "Le mouvement va s'accélérer, les équipes se mettent en place", veut-elle croire.


Outre la candidature de la principale formation d'opposition, le Parti social-démocrate brésilien (PSDB), Marina Silva pourrait bien être talonnée par le gouverneur du Pernambouc, Eduardo Campos, l'étoile montante du Parti socialiste brésilien (PSB), qui fait partie de la coalition gouvernementale. Elle balaie cette éventualité d'un revers de main : "Que représente-t-il dans le pays ?"


Aujourd'hui, deux sondages lui donnent de 16% à 18% d'intentions de vote, loin derrière les 54% de la présidente Dilma Rousseff, qui se représentera. "Croyez-moi, il y a un changement de paradigme. Ce pays possède le potentiel d'être au XXIe siècle ce que les Etats-Unis étaient au XXe." Y croire, dit-elle.

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