quinta-feira, 4 de julho de 2013

JOANA EM BERÇO ESPLÊNDIDO?


Diante do atual cenário político brasileiro, de manifestações populares eclodindo a 3x4 país afora, com protestos referentes a questões as mais variadas, com o claro propósito de darem um basta à inoperância do Congresso Nacional e à inércia do governo federal, há, mesmo assim, vez por outra, embora seja até compreensível, quem se refira ao Executivo e ao Legislativo como sendo, ambos, a própria Casa da Mãe Joana – expressão que, no Brasil, todo mundo sabe muito bem o que significa. Ocorre que, historicamente falando, a referida expressão não é que uma afronta à integridade moral da jovem que a inspirou. Desse modo, decidi republicar um texto (revisto, revisado e atualizado), postado originalmente no dia 05 de agosto de 2009 e, posteriormente, no dia 15 de setembro de 2011, esperando, portanto, que o mal entendido seja desfeito, já que, afinal, Joana teve os seus méritos. Falando nisso...


Quem foi Joana?

Jeanne D’Anjou (1326 - 1382)
Rainha de Nápoles

“A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final...”.

Luís Fernando Veríssimo
Escritor brasileiro


Coroada rainha em 1343, após a morte do avô, Joana era tida como uma protetora de poetas, artistas e intelectuais, sendo a sua vida, contudo, recheada de escândalos e polêmicas as mais diversas – ela foi, inclusive, acusada de conspirar contra a vida do primeiro marido, o príncipe André (1327 - 1345), irmão do rei da Hungria, barbaramente assassinado na noite de 18 a 19 de setembro de 1345 em Anversa, perto de Nápoles. Exilada em Avignon, na França, Joana instalou-se em um castelo que já havia sido residência de vários papas. Levada a julgamento pelo suposto envolvimento na morte do marido, foi inocentada, ficando livre para mandar e desmandar em Avignon. No dia 8 de agosto de 1347, indignada com a prostituição feminina nas ruas de Avignon, Joana publicou um edital, ou estatuto, que, segundo o escritor francês Alexandre Dumas, Pai (1802-1870), em Jeanne de Naples, uma das histórias do livro Les Crimes célèbres (1839-1840), foi, provavelmente, o primeiro no gênero.

No edital, ou estatuto, além de determinar a criação de um prostíbulo particular – uma “instituição salutar”, nos dizeres de Dumas –, Joana decretou normas de funcionamento e de conduta no recinto, a fim de que a ordem fosse mantida, e a aplicação de severas sanções para toda e qualquer violação do regulamento por ela determinado, sendo que, para poderem ser identificadas, as prostitutas deveriam portar um cordão vermelho no ombro esquerdo. À época, segundo, ainda, o escritor, a cidade de Avignon, por ele cognominada de “Nova Babilônia”, possuía um “aspecto estranho e tumultuado”, enquanto que, no prostíbulo, reinavam soberanas línguas e costumes, esplendor e trapos, riqueza e miséria, rebaixamento e grandeza. Entre as normas, contudo, num total de nove, a ressalva de que o estabelecimento abriria todos os dias do ano, “com exceção dos últimos três dias da Semana Santa”, além – o mais curioso – da restrição explícita aos judeus, terminantemente proibidos de frequentar o lugar.

Não demorou muito, o estabelecimento passou a ser popularmente chamado de Casa da Mãe Joana, já que era de propriedade da rainha, a dona da cidade. Porém, ao longo do tempo, e com o mesmo sentido, a máxima viajou mundo afora. No Brasil, segundo o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo (1898 - 1986), desembarcou pelas mãos dos colonizadores portugueses – literalmente –, passando a significar um ambiente onde cada um faz o que quer, onde impera a desordem, a desorganização e o desmando, além de ganhar uma variante ainda mais chula, ou seja, Cu da Mãe Joana. De certa forma abrasileirada, a alcunha, contudo, em nada se compara ao gesto “altruísta” de Joana, sendo, portanto, no mínimo injusta para com a nobre dama, que, aliás, chegou a se casar quatro vezes – isso sem contabilizar os amantes! De qualquer modo, Joana era do bem. Tão do bem que, num ato de vingança pela morte de um dos seus cônjuges, ela foi assassinada por um primo – ironicamente, o seu herdeiro natural...

NBC

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