sábado, 21 de dezembro de 2013

SERIA O SOL PARA TODOS?

“Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a maioria dos cegos é bem-humorada...”.

Geraldo Magela
Humorista brasileiro, portador da retinose pigmentar, conhecido por suas piadas e causos sobre cegos.


Quando se fala em acessibilidade, a maioria das pessoas ainda ignora que a implantação, determinada por lei, de vias de acesso, digamos, diferenciadas, tais como rampas, incluindo adereços como corrimões etc, em espaços públicos e estabelecimentos privados não é exclusividade dos cadeirantes. Na verdade, a tão em voga acessibilidade contempla não apenas aqueles que dependem de uma cadeira de rodas para o seu deslocamento, mas, também, portadores de demais necessidades especiais, como, por exemplo, os cegos, que, infelizmente, passam, igualmente, por situações as mais adversas possíveis, sofríveis, apesar de ser incontestável que a sua qualidade de vida poderia ser melhor, bem diferente, caso o tratamento que eles muitas vezes recebem da sociedade fosse sincero, não manifestado por boa vontade ou pena (sentimentos dispensáveis, pois são de fachada) –, mas por um gesto de solidariedade. O fato é que todos, sem exceções, portadores ou não de necessidades especiais, devem ser respeitados na sua condição humana. De qualquer modo, é como diria a propaganda que, vez por outra, passa na televisão sobre a Síndrome de Down: — Ser diferente é ser normal...

Com a filosofia, portanto, de incentivar os princípios de igualdade e solidariedade humanas – princípios esses estabelecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 10 de dezembro de 1948 –, foi criado, no Brasil, por decreto (nº 51.405/61) publicado no Diário Oficial da União (DOU) em 26 de julho de 1961, o Dia Nacional do Cego. À época, o país era presidido pelo advogado Jânio Quadros (1917 - 1992), que, aliás, era míope e estrábico – outra história. Os princípios mencionados, por sua vez, prerrogativas para a preservação de direitos fundamentais, sem discriminação e distinção a qualquer nível... – se assim o é, que a data seja extensiva aos animas ditos irracionais, tipo gato, cachorro etc, já que também são seres vivos. Enfim! Desde então, a data é lembrada todo 13 de dezembro (Dia de Santa Luzia, considerada a protetora dos olhos) –, ressaltando que, de uns tempos para cá, a prioridade das ações globais contra a cegueira seja a da prevenção, através de novas drogas e técnicas cirúrgicas, contra doenças graves que podem provocar a cegueira (glaucoma, retinopatia diabética, degeneração macular e catarata, entre outras) – objetivo maior, por exemplo, do programa Visão 2020: o direito a ver, lançado em 1999, numa iniciativa conjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB), pois, segundo nota divulgada pelo referido programa, visa “eliminar a cegueira evitável em todo o mundo até o ano de 2020. Isso porque até 80% dos casos de cegueira resultam de causas previsíveis e/ou tratáveis, mas, a cada cinco segundos uma pessoa fica cega no mundo e uma criança perde a visão a cada minuto. São 285 milhões de pessoas no mundo vivendo com baixa visão ou cegueira. Desses, 39 milhões são cegas e 246 milhões têm moderada ou grave deficiência visual”, sendo, portanto, um dos principais eventos do referido programa a promoção do Dia Mundial da Visão, comemorado, desde o seu lançamento, sempre na segunda quinta-feira de outubro de cada ano. No caso do Brasil, segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – obviamente que os dados não estão atualizados –, existiriam, digamos, 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, das quais 582 mil são cegas e 6,0 milhões com baixa visão.



Retomando, contudo, o que dizia no primeiro parágrafo: além da ignorância como impedimento para que, na sociedade, muitos enxerguem o direito conquistado à acessibilidade para portadores de necessidades especiais (não nos esqueçamos dos idosos, dos obesos, dos que conduzem carrinhos de bebês, entre outras), têm pessoas que discriminam por puro e deslavado preconceito ou, meramente, por falta de interesse – nos dois casos, o resultado é o descaso, a anos-luz da tão decantada consciência, que, convenhamos, é algo que se adquire, circunstancialmente ou não, como bem o atestou a médica chinesa Margaret Chan, atual diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, ao lê-la, apenas corroborou o que constatei quando, em 2012, convalescia de um pé quebrado (explodido, no jargão médico), ou seja: — A deficiência é parte da condição humana. Quase todo mundo, em algum momento da vida, terá, temporária ou permanentemente, uma ou mais deficiências...



Um parêntese:

“O mais agudo dos nossos sentidos é o da visão...”.

Cícero (106 - 43 a. C.)
Político, orador e escritor romano.


E quando a visão nos falta, eu perguntaria? Bom! Durante a sua elaboração, enviei, por e-mail, a presente postagem a uma amiga, na expectativa, quiçá, de que ela fizesse algumas considerações e, de repente, desse alguma sugestão. Em resposta, recebi alguns comentários tecidos por ela, dizendo que, na condição de estrábica e astigmática, dispondo, portanto, de uma visão limitada, não eram poucas as situações desconfortáveis pelas quais já passou e ainda costuma passar, como, por exemplo, a dificuldade que tem em distinguir o destino dos transportes públicos nas vezes em que faz uso dos mesmos, bem como nas consultas que faz a dicionários e bulas de remédio... Por fim, citou um fato que, certa feita, lhe aconteceu numa festa: convidada por um rapaz para dançar, ela aceitou, pôs os óculos na mesa e foi para o salão. Ocorre que, quando a dança acabou, ela despediu-se do seu par e se afastou, mas, como o ambiente estava praticamente às escuras, não conseguiu sequer vislumbrar a mesa na qual se encontrava e terminou por pedir ajuda a terceiros para localizá-la. De imediato, lembrei-me de momentos nos quais, nas praias, no caso de adentrar sozinha de mar, eu, que sou míope desde criança, costumava, antes de tirar os óculos para ir nadar, fixar alguma edificação, de porte que se destacasse, próximo de onde deixaria os meus pertences, inclusive os óculos, para, ao retornar, ter uma referência do local onde os havia deixado. Só que o tempo passou e, não é de hoje, nas raras vezes em que, desacompanhada ou não, resolvo tomar um banho de mar, levo os meus óculos comigo. Medo de perdê-los na água? Nenhum, pois, ao mergulhar, certifico-me de que estão seguros numa das mãos. E vou que vou!

E essa coisa é tão curiosa que, outro dia, um amigo revelou-me que um dos motivos pelos quais gosta do meu blog é porque as “letras são grandes”, ou seja, o tamanho das fontes que utilizo para redigir os meus textos – consequentemente, postá-los – deve ser razoavelmente maior do que o dos demais sites da internet que acessa. Nesses momentos, visto que, por ter o que chamam de vista cansada, ele disse recorrer aos seus óculos de grau, ao contrário da minha amiga, que, por exemplo, para ler as epígrafes das ilustrações da cópia desta postagem, precisou de um zoom, aumentando o tamanho das fontes, apesar de, geralmente, vale salientar, ela não faça isso quando lê as minhas publicações no blog. Ocorre que, por ter tirado uma versão impressa pouco antes de lhe enviar a cópia virtual, eu nem me dei conta que, a fim de economizar tinta e papel, havia reduzido, intencional e proporcionalmente, todas as fontes – título, subtítulos, epígrafes, corpo do texto –, esquecendo-me, contudo, de voltá-las ao seu tamanho original. Ah! Não nego que, de vez em quando, também recorro ao zoom para facilitar as minhas leituras... Enfim! Desde as considerações feitas por meus amigos, nem ouso alterar a formatação que, normalmente, dou as minhas postagens – coisa que, independentemente da minha condição de míope, sempre fiz, embora, recentemente, o meu oftalmologista tenha diagnosticado que ando com a vista cansada – pudera, sempre exigi demais dos meus olhos –, levando-me, por isso, a adequar as minhas lentes ao novo problema – um saco! No mais, fico a pensar nas maravilhas tecnológicas que – não é de hoje – têm garantido a acessibilidade dos cegos, de nascença ou não, ao computador e a internet...

Por fim, fazendo alusão à pergunta lançada no início desta postagem, percebo que, de fato, pelo menos até onde tenho conhecimento, a visão é “o mais agudo dos nossos sentidos”. Desse modo, quando se é privado desse benefício que é enxergar, embora, muitas vezes, diante de certas situações, deseja-se nem ter visto-as – outra história –, dizem que os demais sentidos aguçam-se – tudo indica que sim. De qualquer maneira, o que viria a ser a visão? Segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa: o ato ou efeito de ver; o sentido da vista; ponto de vista, aspecto; imagem vã, que se acredita ver em sonhos, ou por medo, loucura, superstição; visagem; fantasma; fantasia, quimera; maneira de compreender, de perceber determinadas situações; revelação. Por outro lado, de acordo, ainda, com o mesmo dicionário, o antônimo de visão é cegueira, definido como o estado de cego, ou seja, privado da vista; tiflose, o seu nome na medicina; estado de quem tem a razão obscurecida, o discernimento ou o raciocínio perturbado; afeição extrema, exagerada, no sentido figurativo, a alguém ou alguma coisa; falta de lucidez ou de inteligência, de bom senso – o que eu não sabia é que existe até cegueira verbal, cujo nome na medicina é alexia, nada mais do que a perda patológica da capacidade de apreender o significado da palavra escrita. Por isso que, sem a visão, ou seja, a capacidade de enxergar com olhos, literalmente falando, ou mesmo sem demais sentidos dados ao substantivo, metafóricos e/ou figurativos, depara-se, assim, com cegueiras as mais variadas, ou, digamos, apagões, cuja intensidade, pertinência e prazo de validade são proporcionais ao grau da sua gravidade, se parcial ou total, e, quando é o caso, do nível da sua consciência. Ou não...

Na verdade, a sociedade sempre esteve repleta de apagões, não necessariamente visuais, mas... Temporários ou permanentes, os apagões são provocados por causas as mais diversas. E podem ser distorcidos, equivocados, errôneos, desencadeados, contudo, por motivos diversos, que, diga-se de passagem, já viraram lugar-comum. Sim, são cegueiras de diversos matizes, os mais distintos possíveis, previsíveis, imprevisíveis... Inimagináveis. Cegueiras reais ou simuladas, dissimuladas, deliberadas (falsas), convenientes, oportunistas, dúbias: cegueiras por contingências. Ingênuas, involuntárias; dementes, delirantes; individuais, partilhadas, compartilhadas e/ou coletivas: genéticas ou institucionalizadas. Cegueiras viróticas, endêmicas, dogmáticas, religiosas, ideológicas, culturais e, por aí, vai: todas alienantes... Isso sem falar das cegueiras ditas normais, tipo:


O amor é cego!
“Coração é terra onde ninguém mete a mão...”.

Roberto DaMatta
Historiador e antropólogo brasileiro.


E nem adianta tentar entender esse sentimento que, invariavelmente, se deixa guiar por uma lógica para lá de peculiar – a ele apenas pertence –, contrariando, óbvio, o dito bom senso, considerando ser “posto que é chama”, como já bem o disse o diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Falando em chamas... Na carona do pião, portanto, nada como uma volta, mas com prudente distanciamento e lucidez mental, no obscurantismo da Santa Inquisição (1134 - 1839), embora a sua criação oficial e regulamentação, com o nome de Tribunal do Santo Ofício, tenha ocorrido em 1231 – um período da História da humanidade que, para a infelicidade daqueles que nele viveram (os óbitos são incalculáveis), foi contaminado por múltiplas cegueiras –, uma das quais, por exemplo, insana ao cubo, era votada as mulheres de maneira em geral e implacavelmente: bastava as representantes do sexo feminino pensarem em fazer um simples chá com folhas de plantas aromáticas ou mesmo de alguma erva com poder terapêutico, para que, por esse bucólico gesto, elas fossem acusadas de bruxaria – prática que os inquisidores consideravam crime contra a fé... Daí que, não satisfeitos em saquear os seus bens, os caçadores de bruxas e os seus algozes – psicopatas por excelência – compraziam-se, ainda, em estuprá-las, exercendo toda sorte de crueldade. Por fim, coroando o festival de horrores, as mulheres eram julgadas, sem direito sequer à defesa, e condenadas à morte por heresia. O modus operandi? Forca, empalação, fogueira... – será que tiravam no palitinho? Porém, o boom era a morte na fogueira, onde elas ardiam, queimando por inteiro... O fato é que a Inquisição nada tinha de santa – o que dirá o seu tribunal! Sim, porque, como se sabe, santidade é igual Papai Noel, inexiste. Desse modo, não foi à toa que, deveras insana, a Idade Média também ficou conhecida como a Idade das Trevas... É como diria o filósofo italiano Giordano Bruno (1548 - 1600), dominicano que, por ter se rebelado contra o status quo dos seus pares de batina, um bando de celerados sádicos, ensandecidos, foi excomungado, igualmente torturado, preso e jogado à fogueira, ou seja: — Toda violência é um defeito do espírito...

Detalhe: ao final desta postagem, disponibilizei um link para uma publicação abordando o referido tema.


Trevas da Idade Média... 
“Só há uma treva: a ignorância...”.

William Shakespeare (1564 - 1616)
Poeta dramático inglês.


Em meados do séc. XIV, mais precisamente na última semana de novembro de 1327, um frade franciscano inglês, Guilherme de Baskerville, é levado a investigar uma série de mortes ocorridas num mosteiro beneditino incrustado nos Alpes italianos. Durante, portanto, sete dias e sete noites, Baskerville e o seu jovem auxiliar, o noviço Adso de Melk, investigam o mistério, já que os monges mortos, num total de sete, apresentam línguas e dedos manchados de tinta, e o elucidam – na verdade, um serial killer, executado por um também monge, o ancião espanhol Jorge de Burgos, que, outrora bibliotecário do mosteiro, encontra um manuscrito de Aristóteles (384 - 322 a. C.), no qual, julgado perdido, o filósofo grego faz uma apologia ao riso. Tempos depois, embora afastado das suas funções – ele se tornara cego –, Jorge de Burgos não mede esforços para, com os seus conhecimentos, controlar o acesso de outrem à biblioteca, evitando, por extensão, uma eventual leitura do tal manuscrito, do qual, aliás, considerando a periculosidade do seu teor, sempre se considerou guardião, não hesitando nem mesmo em destilar veneno nas páginas do seu achado – gesto que resulta no assassinato dos monges. Ocorre que, confrontado por Baskerville, que representa o frescor do Renascimento iminente, o ancião homicida, sem visão, literalmente, e desequilibrado do juízo, ou seja, duplamente cego, dos olhos e da mente, completamente sem noção, como se diz atualmente, simbolizando, com o seu dogmatismo religioso, a irracionalidade medieval, e no auge dos seus transtornos e sandices, desencadeia um incêndio no mosteiro e engole as páginas do manuscrito, morrendo envenenado – gesto esse que, ficcionalmente, põe por terra a oportunidade de demais leitores sorverem o seu conteúdo, ou seja, a mensagem do riso, que, associado à liberdade, era visto pelo monge como uma insubordinação e, por conseguinte, uma ameaça ao seu deus, as suas crenças, à Bíblia, enquanto que, metaforicamente, o mesmo gesto representaria a obstrução do acesso de quem quer que fosse à liberdade em si.

De autoria do escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano Umberto Eco, a história acima é contada no romance O Nome da rosa, publicado em 1980, sendo adaptado para o cinema em 1986 – o filme, homônimo, dirigido pelo cineasta francês Jean-Jacques Annaud, igualmente uma obra de arte. Desse modo, visto que o tema desta postagem é acessibilidade... Quando ainda era apenas uma adolescente, tive acesso aos dois, livro e película (incursões intelectuais que, inclusive, considero duas das mais ricas de toda a minha vida) – não é à toa que, em alguns textos de minha autoria, já fiz referências à narrativa de Eco. O historiador brasileiro Antônio Ozaí da Silva, por sua vez, citou o carro-chefe do italiano no ensaio Entre o sagrado e o profano: o interdito ao riso, publicado na Revista Espaço Acadêmico em março de 2006, motivado que foi pelos protestos que, à época, eclodiram em diversos recônditos do planeta depois que, inserido em certo contexto, o dinamarquês Jyllands-Posten satirizou, em charges, o profeta Muhammad (cerca de 570 – 632 d. C.), nascido em Meca e fundador da religião mulçumana. Reproduzindo as charges, o France Soir estampou: Sim, nós temos o direito de caricaturar Deus. À ocasião, igualmente divulgando o material, a Folha de S. Paulo suscitou o debate sobre o direito à liberdade de expressão, apesar de que, ressaltou, isso significasse “contrariar uma comunidade religiosa”.

Enquanto isso, no ensaio, o alerta para que, nos dias de hoje, “se não agirmos positivamente, os fundamentalistas de todos os credos e ideologias, no oriente e/ou no ocidente, imporão o seu fanatismo e a intolerância. Voltaremos, então, à Idade Média, de onde alguns parecem nunca terem saído ao reencarnarem os espíritos medievais”. Para o historiador, “ainda que as charges provoquem o riso, o fiel religioso, fundamentalista ou não, pode resistir ao riso se considerá-lo um sacrilégio. É seu direito! Mas pode este negar ao outro a faculdade de rir? O respeito à religiosidade do outro tem sentido se inserido no sistema religioso. Se frequento um determinado espaço sagrado, não devo ser jocoso em seu interior. Mas se não sou membro da comunidade religiosa não estou obrigado a seguir os mesmos preceitos. Se não riem, não quer dizer que também não devo rir; se não comem carne de porco, não significa que também devo me abster; se idolatram e cultuam imagens, não estou obrigado a fazer o mesmo. E ainda que eu me irrite com o desrespeito do outro à minha crença, não tenho o direito de lhe tirar a vida ou lhe ameaçar por isso”.


Em busca do riso? 
“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem...”.

Diálogo do livro ilustrado acima, de autoria do escritor português José Saramago (1922 - 2010), publicado em 1995 e adaptado para o cinema em 2008, cujo filme, homônimo, foi dirigido pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles.


Infelizmente, apesar do discernimento contido no ensaio do historiador Antônio Ozaí da Silva, a intolerância religiosa ao riso prossegue: feito rito – preferia que se reduzisse a mito... Tanto que, recentemente, na internet, encontrei uma belíssima reflexão sobre felicidade, tecida, com poesia e lucidez, pelo filósofo brasileiro Sergio Viula, embora, quando ele a escreveu, tenha sido para outro contexto – não importa, pois dá no mesmo: ele foi feliz – sem trocadilho – nas suas colocações. Sim, porque, afinal, o riso não tem de, necessariamente, ser sinônimo de deboche ou desdém. Na verdade, o riso aberto, franco, espontâneo está mais para felicidade do que para qualquer outra coisa. Eis, portanto, o que diz o filósofo a respeito: — O ressentimento contra a felicidade alheia é o maior atestado de infelicidade própria que alguém pode dar a si mesmo. Todo fundamentalista, por adiar a felicidade para o além-mundo, se ressente da felicidade dos outros. Por isso, ele abana as chamas de seu próprio inferno para cima daqueles que, ignorando seu esforço para estragar tudo, constroem sua felicidade aqui e agora da melhor maneira possível...

Não me resta citar, então, certo provérbio atribuído aos escolásticos da Idade Média – que paradoxo! –, mas que, ao longo do tempo, tornou-se um provérbio francês: Des goûts et des couleurs, il ne faut pas discuter, ou seja: não se discute gostos nem cores, significando, digamos, que, amparado pelos direitos que lhe confere a sua individualidade, cada um é livre para pensar e agir segundo as suas preferências – e ninguém tem nada a ver com isso. Voilà!

 


Enquanto isso, para refletir, demais exemplos de cegueira...
“A Bíblia é uma enxurrada de absurdos...”.

José Saramago


Espeto de pau!

“A Constituição Federal de 88 não se limitou a proclamar, como direito fundamental, a liberdade de religião (artigo 5º, inciso VI). Ela foi além, consagrando, no seu art. 19, inciso I, o princípio da laicidade do Estado, que impõe aos poderes públicos uma posição de absoluta neutralidade em relação às diversas concepções religiosas. Este princípio não indica nenhuma má vontade do constituinte em relação ao fenômeno religioso, mas antes exprime ‘a radical hostilidade constitucional para com a coerção e discriminação em matéria religiosa, ao tempo em que afirma o princípio da igual dignidade e liberdade de todos os cidadãos’ [Jónatas Eduardo Mendes Machado. Liberdade Religiosa numa Comunidade Constitucional Inclusiva. Coimbra: Coimbra Editora, 1996, p. 347]”.

Daniel Sarmento, especialista em Direito Constitucional e Direito Público, no texto Legalização do aborto e constituição, Diferentes mas iguais. Estudos de Direito Constitucional (2006), citado por VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti. Tomemos a sério o princípio do Estado laico. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1830, 5 jul. 2008. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/11457. Acesso em: 21 dez. 3913.

 










Déficit nutricional?
“Vivemos em um mundo de abundância. Hoje, se produz comida para 12 bilhões de pessoas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), quando, no planeta, habitam 7 bilhões. Comida, existe. Então, por que uma em cada sete pessoas no mundo passa fome?”.

Esther Vivas
Jornalista espanhola, ativista de movimentos sociais e de políticas agrícolas e alimentares, em artigo publicado em El País no dia 30 de julho de 2011, intitulado Os porquês da fome.


No Dia Mundial do Meio Ambiente de 2013, 05 de junho, o tema da campanha deste ano, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi Pensar. Comer. Conservar – Diga Não ao Desperdício, visando, assim, diminuir o desperdício, por consumidores e comerciantes, de alimentos próprios para o consumo. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), por sua vez, parceira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), chegou a divulgar que “1,3 bilhão de toneladas de comida são jogadas fora por ano em todo o mundo, o equivalente, digamos, ao que é produzido na África Subsaariana no mesmo período. Isso sem falar que uma em cada sete pessoas nesse mesmo mundo passa fome e mais de 20 mil crianças com menos de cinco anos morrem todos os dias por conta de desnutrição...”.



Segundo o PNUMA, 08 trilhões de dólares é o prejuízo anual que se tem com a destruição do meio ambiente. Resumindo: estamos falidos. E os recursos naturais exaurindo-se... Só que eu quero o meu ambiente por inteiro: não pela metade! – informações extraídas de postagens deste blog.







 Pedofilia: Crime de estupro (art. 213 do Código Penal brasileiro) contra crianças e adolescentes e crime de atentado violento ao pudor (art. 214 do Código Penal brasileiro), considerados crimes hediondos.

Pena: De 06 (seis) a 10 (dez) anos de reclusão.

Disque 100 para denunciar!





“Considero o dinheiro uma coisa sórdida...”.

Oscar Niemeyer (1907 - 2012)
Arquiteto brasileiro.
















Era uma vez...
“A miséria não acaba porque dá lucro...”.

Arnaldo Jabor
Jornalista brasileiro










Abre-te, Sésamo!
Um dilúvio de luz cai da montanha:
Eis o dia! eis o sol!

Antero de Quental (1842 - 1891)
Poeta português.


Eis o verão...

PIDO SILENCIO

AHORA me dejen tranquilo.
Ahora se acostumbren sin mí.

Yo voy a cerrar los ojos

Y sólo quiero cinco cosas,
cinco raices preferidas.

Una es el amor sin fin.

Lo segundo es ver el otoño.
No puedo ser sin que las hojas
vuelen y vuelvan a la tierra.

Lo tercero es el grave invierno,
la lluvia que amé, la caricia
del fuego en el frío silvestre.

En cuarto lugar el verano
redondo como una sandía.

La quinta cosa son tus ojos,
Matilde mía, bienamada,
no quiero dormir sin tus ojos,
no quiero ser sin que me mires:
yo cambio la primavera
por que tú me sigas mirando.

Amigos, eso es cuanto quiero.
Es casi nada y casi todo.

Ahora si quieren se vayan.

He vivido tanto que un día
tendrán que olvidarme por fuerza,
borrándome de la pizarra:
mi corazón fue interminable.

Pero porque pido silencio
no crean que voy a morirme:
me pasa todo lo contrario:
sucede que voy a vivirme.

Sucede que soy y que sigo.

No será, pues, sino que adentro
de mí crecerán cereales,
primero los granos que rompen
la tierra para ver la luz,
pero la madre tierra es oscura:
y dentro de mí soy oscuro:
soy como un pozo en cuyas aguas
la noche deja sus estrellas
y sigue sola por el campo.

Se trata de que tanto he vivido
que quiero vivir otro tanto.

Nunca me sentí tan sonoro,
nunca he tenido tantos besos.

Ahora, como siempre, es temprano.
Vuela la luz con sus abejas.

Déjenme solo con el día.
Pido permiso para nacer.

Pablo Neruda (1904 - 1973)
Poeta chileno.


O Solstício de verão, fenômeno que marca o início da estação no Hemisfério Sul (iniciou-se às 14h11 de hoje, 21 de dezembro de 2013), é conhecido por ser o dia mais longo do ano, e consequentemente, em termos de iluminação por parte do Sol, tem a noite mais curta do ano.



Fiat lux!



Sugestão para leitura:



Que seja feita a vontade de Deus? – Parte III – Adão, Eva e a serpente (14 de maio de 2011): http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2010/05/que-seja-feita-vontade-de-deus-parte.html

A Bruxa e o mago: os dois lados da mesma moeda? (23 de maio de 2011): http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2010/05/bruxa-e-o-mago-os-dois-lados-da-mesma.html



Nathalie Bernardo da Câmara

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